Génesis Capítulo 13

Ló Só Pensa em Si Mesmo (Génesis 13:5-18)

Introdução

Ló nunca leu um livro sobre este assunto, mas ele o conhecia muito bem, como podemos ver pelo relato de Moisés em Génesis 13. Ali, tinha chegado o tempo de Abrão e Ló se separarem. Na sua separação, podemos ver um contraste entre aqueles dois santos quanto ao que os levou a fazer o que fizeram; um contraste que serve de alerta a quem acha que Deus abençoa aos que só pensam em si mesmos sem considerar as outras pessoas.


O Relacionamento Fica Tenso (Génesis 13:5-7)

Ao saírem de Ur com Terá, Abrão e Ló pareciam inseparáveis, mesmo quando Deus ordenou a Abrão que deixasse os seus parentes para trás.

"Ora, disse o Senhor a Abrão: Sai da tua terra, da tua parentela, e da casa de teu pai, e vai para a terra que te mostrarei" (Génesis 12:1).

Contudo, finalmente, os laços entre eles acabam por enfraquecer. Basicamente, a sua separação foi causada por três factores, os quais estão registados em Génesis 13:5 a 7:

"Ló, que ia com Abrão, também tinha rebanhos, gado e tendas. E a terra não podia sustentá-los, para que habitassem juntos, porque eram muitos os seus bens; de sorte que não podiam habitar um na companhia do outro. Houve contenda entre os pastores do gado de Abrão e os pastores do gado de Ló. Nesse tempo os cananeus e os ferezeus habitavam essa terra" (Génesis 13:5-7).

O primeiro problema foi o sucesso de ambos como criadores de gado. Os dois, Abrão (Génesis 13:2) e Ló (Génesis 13:5), tinham prosperado. As suas manadas e rebanhos tornaram-se tão grandes que eles não podiam mais viver juntos (Génesis 13:6). Esta era uma realidade entre as tribos nómadas que precisavam estar sempre a deslocar-se à procura de pasto para as ovelhas e para o gado.

O segundo problema foi a disputa crescente entre os seus pastores (Génesis 13:7). Tanto os pastores de um quanto os do outro procuravam água e o melhor pasto para os animais do seu senhor. Essa competição inevitavelmente levou a um conflito entre eles. Não seria ir longe demais sugerir que alguma irritação já se tornara evidente até mesmo entre Abrão e Ló. Talvez isto esteja implícito nas palavras de Abrão em Génesis 13:8. O que também seria verdade. Sempre que há desentendimento entre os seguidores, com muito mais frequência há também entre os líderes. Se o primeiro problema foi o sucesso de ambos, e o segundo, consequência dele, o terceiro foi o facto de a terra onde eles habitavam ser dividida com outros povos, ou seja, com cananeus e ferezeus (Génesis 13:7).

É muito fácil nos esquecermos de que Canaã ainda não pertencia a nenhum dos dois, Abrão ou Ló. Quando eles separam-se neste capítulo, cada um segue o seu caminho; eles não dividem uma propriedade. Eles estavam a viver numa terra ocupada por cananeus e ferezeus.

Este comentário aparentemente casual da pena de Moisés não só nos faz lembrar que Abrão era um peregrino, ao habitar numa terra que algum dia seria da sua descendência, como também pode sugerir que o desentendimento existente entre ele e Ló foi um triste testemunho para quem os observava. Por isso, os dois, além de ter de dividir as pastagens entre si, também estavam à mercê daqueles que reclamavam a posse da terra. Não podemos deixar de sorrir quando lemos estes versículos, pois Deus trabalha de uma maneira algo estranha, e às vezes até bem humorado, para realizar a Sua vontade. Tempos atrás, Deus tinha dito a Abrão para deixar a sua pátria e a sua parentela. Naquela época, deixar Ló era principalmente uma questão de princípio. Abrão precisava deixá-lo porque Deus disse para deixar. Agora, anos mais tarde, com relutância, ele reconhece que a separação é necessária, não por uma questão de princípio, mas por uma questão prática. Temos de entender que de uma maneira ou de outra, a vontade de Deus será feita. Podia ter sido em Ur, mas não foi. Na Sua providência, Deus trouxe desentendimento e competição entre Abrão e Ló, o que forçou a separação. Mais cedo ou mais tarde, os propósitos de Deus serão realizados. Se não vemos necessidade de obediência, Deus criará uma. Nós podemos contar com isso.


O Pedido (Génesis 13:8-9)

Sem dúvida, o problema que causou a separação entre Abrão e Ló há muito era evidente. Imaginamos que Abrão tenha discutido diversas vezes o assunto com Sarai, a sua esposa. O texto não diz nada, mas desconfia-se que ela deva ter dito a ele as mesmas palavras que incontáveis esposas guardam para uma ocasião como esta: "Eu não te disse?".

Geralmente, o curso inevitável dos acontecimentos é óbvio para os nossos companheiros muito antes de estarmos dispostos a aceitar a realidade dos factos. É bem possível que Sarai tenha apresentado uma solução totalmente diferente da encontrada por Abrão. Talvez ela tenha dito: "Diz para o Ló ir embora". "Abrão, Deus não chamou Ló para ir a Canaã, só tu". "Deixa ele ir à sua vida". Tudo isto, é claro, é mera conjectura da nossa parte, mas qualquer estudante da natureza humana teria de concordar que, pelo menos, é uma possibilidade viável.

A solução encontrada por Abrão não poderia ser mais graciosa ou piedosa. A sua motivação parece ter sido baseada na ética, não na economia.

"Disse Abrão a Ló: Não haja contenda entre mim e ti e entre os meus pastores e os teus pastores, porque somos parentes chegados. Acaso não está diante de ti toda a terra? Peço-te que te apartes de mim; se fores para a esquerda, irei para a direita; se fores para a direita, irei para a esquerda" (Génesis 13:8-9).

Acima de tudo, Abrão queria manter a paz e resolver o conflito que havia se estabelecido entre eles. A coisa mais importante era preservar a união fraterna. Por mais estranho que pareça, embora a separação fosse mais prática, a união devia ser preservada por meio dela. Um deles precisava partir, ou Abrão ou Ló.

Aparentemente, era óbvio que eles precisavam separar-se. O único problema era: quem devia ir embora, e para onde? Abrão deixou a decisão por conta de Ló. Qualquer que fosse a sua escolha, Abrão iria agir em conformidade com ela. A oferta dava vantagem a Ló e deixava Abrão vulnerável.


A Resolução e as Suas Consequências (Génesis 13:10-13)

Quando Abrão fez a oferta a Ló, parece que os dois estavam num lugar alto, de onde podiam avistar toda a terra ao seu redor. A decisão de Ló foi friamente calculada. Com olhos de um avaliador, ele examinou a terra, ao pesar as vantagens e desvantagens das opções:

"Levantou Ló os olhos e viu toda a campina do Jordão, que era toda bem regada (antes de haver o Senhor destruído Sodoma e Gomorra), como o jardim do Senhor, como a terra do Egipto, como quem vai para Zoar. Então, Ló escolheu para si toda a campina do Jordão e partiu para o Oriente. Separaram-se um do outro" (Génesis 13:10-11).

Como um pai com filhos, podemos entender o que o olhar de Ló procurava enquanto ele inspecionava a terra ao seu redor. Qualquer um dos filhos de um brasileiro poderia trabalhar para o Bureau of Standards (No Brasil, algo equivalente à ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas). Com um simples olhar, cada um deles pode facilmente calcular a quantidade da bebida num copo. Sem qualquer esforço aparente, eles estendem a mão e o primeiro a alcançar o copo sempre pega o mais cheio, mesmo que a diferença seja mínima. Este mesmo tipo de olhar era evidente nos olhos de Ló.

Ele fixou os olhos na bela campina do Jordão. A sua beleza verdejante era sinal da presença de muita água para irrigação. Mais adiante, as colinas áridas e o solo empoeirado eram de pouco interesse. Lá quase não havia água. A campina do Jordão era literalmente um paraíso. Era exactamente como "o jardim do Senhor" (Génesis 13:10). E também parecia ser abastecida por irrigação, não por chuva (Génesis 2:6, 10). Era, ainda, como a terra do Egipto. Não era preciso viver pela fé num lugar como esse, pois a água era abundante, não era preciso esperar em Deus pela chuva.

E foi assim que Ló escolheu a sua parte, claramente uma decisão astuta e, aparentemente, uma opção que lhe dava uma vantagem decisiva na competição com Abrão. Para nós, achamos que foi uma decisão egoísta - a qual onde Ló ficava com o que havia de melhor e deixava para Abrão o que parecia sem valor.

Uma separação mais simples e mais justa teria sido usar o Jordão como fronteira entre eles. Não teria sido mais justo Ló viver de um lado do Jordão, ao deixar o outro para Abrão? No entanto, Ló escolheu "toda a campina do Jordão" (Génesis 13:11). Ele fez um trabalho de mestre ao pensar só em si mesmo. Ele poderia ter escrito um livro sobre o assunto.

E assim eles se separaram. Abrão ficou em Canaã, enquanto Ló foi avançando cada vez mais em direcção a Sodoma.

"Habitou Abrão na terra de Canaã; e Ló, nas cidades da campina e ia armando as suas tendas até Sodoma" (Génesis 13:12).

Ló tinha considerado com muito cuidado os factores económicos da sua decisão, mas tinha deixado de lado completamente as dimensões espirituais. Deus tinha prometido abençoar Abrão, e outras pessoas por meio dele quando elas o abençoassem (Génesis 12:3). Ao seguir o seu caminho, cremos que Ló cumprimentou a si mesmo por ter dado o recado ao velho Abe. Abrão devia ser fraco da cabeça por dar essa vantagem a Ló, e Ló era astuto o suficiente para se aproveitar disso. Contudo, ao fazer isto, ele não abençoou Abrão, mas fez pouco dele. Isso pedia maldição, não bênção (Génesis 12:3).

Além do mais, Ló não pensou nas consequências de viver nas cidades da campina. Embora o solo fosse fértil e a água abundante, os homens daquelas cidades eram perversos. O custo espiritual da decisão de Ló foi enorme. E, no final, todos os benefícios materiais também se transformaram em perda. Cremos que Ló não pretendia realmente viver nas cidades da campina. No começo, ele simplesmente tomou uma direcção comum (Génesis 13:11). No entanto, uma vez que o nosso rumo é estabelecido, o nosso destino também é determinado por ele, pois isso é apenas uma questão de tempo. Embora no início Ló vivesse em tendas (Génesis 13:12), logo ele as trocou por uma casa em Sodoma (Génesis 19:2, 4, 6). Talvez no princípio ele tenha morado nas redondezas, mas no fim ele estava a morar na cidade (Génesis 19:1).

Algumas resoluções talvez não pareçam muito sérias, mas elas estabelecem um curso determinado para a nossa vida. A decisão pode não ser muito importante, mas o resultado final pode ser trágico e assustador. E, muitas vezes, a aparência é de que a escolha foi feita só para o nosso benefício. Prosperidade material nunca deve ser procurada à custas de risco espiritual. Como o tempo pode mudar a nossa perspectiva de prosperidade! Quando a decisão de estabelecer-se na campina do Jordão foi tomada, o lugar era praticamente um paraíso (Génesis 13:10). Moisés, no entanto, inclui uma observação parentética que coloca essa beleza sob uma luz muito diferente: "antes de haver o Senhor destruído Sodoma e Gomorra" (Génesis 13:10).

As coisas mostram-se bem diferentes diante do julgamento divino. Aquele lugar era um belo paraíso - até Deus lançar fogo e enxofre sobre ele (Génesis 19:24). Daquele dia em diante tudo se tornou uma grande devastação. Muito maior que a perda das suas posses e da sua prosperidade foi o terrível preço pago por Ló pelo seu prazer passageiro. De acordo com Pedro, a sua alma foi continuamente afligida pelo que ele via na cidade (2 Pedro 2:7). Mesmo quando o santo está rodeado de prazer sensual, ele não pode desfrutar do pecado por muito tempo. E mais trágico ainda, foi ele ter pago pela sua decisão com a própria família. A sua esposa tornou-se uma estátua de sal, por causa da sua atracção por Sodoma (Génesis 19:26). As suas filhas seduziram-no e o levaram a cometer incesto, sem dúvida um reflexo dos valores morais aprendidos em Sodoma (Génesis 19:30).


Deus Restaura a Confiança de Abrão (Génesis 13:14-17)

É interessante que Deus só fala com Abrão (pelo menos, no que se refere à Escritura) após ele tomar a decisão de se separar. Isso não foi casual, mas fundamental, pois lemos: "Disse o Senhor a Abrão, depois que Ló se separou dele..." (Génesis 13:14).

Até onde podemos ver, o chamado de Deus a Abrão (Génesis 12:1-3) foi só para ele. Assim como a confirmação em Génesis 13. Deus disse-lhe para deixar a sua parentela (Génesis 12:1). A bênção não poderia vir sem a obediência à Sua vontade revelada; nem a restauração. Em termos humanos, a única coisa que ficou no caminho da bênção divina foi a desobediência humana. Providencialmente, Deus remove essa barreira ao separar Ló de Abrão, e então, Ele reafirma a Sua promessa.

"...Ergue os olhos e olha desde onde estás para o norte, para o sul, para o oriente e para o ocidente; porque toda essa terra que vês, eu ta darei, a ti e à tua descendência, para sempre. Farei a tua descendência como o pó da terra, então se contará também a tua descendência. Levanta-te, percorre essa terra no seu comprimento e na sua largura, porque eu ta darei" (Génesis 13:14-17).

Ló tinha "erguido seus olhos" (Génesis 13:10) e contemplado a terra antes de Abrão, com os olhos de alguém que avalia uma promessa financeira; Abrão recebe ordem de olhar para a promessa de Deus com os olhos da fé. Talvez Abrão estivesse num lugar elevado, a examinar a terra que era sua, e também, quem sabe, a terra escolhida por Ló. Se nós estivéssemos no lugar dele, muitos pensamentos teriam passado pela nossa cabeça. Será que tínhamos desistido da nossa oportunidade de ouro? Sarai não achava que tínhamos feito papel de tolos? Teríamos falhado com ela? Teríamos falhado com Deus quando tomamos a nossa decisão? Uma olhada no verde exuberante da campina do Jordão, em contraste com o castanho estéril das colinas áridas, poderia ter inspirado esse tipo de pensamento. Contudo, Deus garantiu a Abrão que toda a terra que ele estava a contemplar lhe seria dada. Ló podia ter escolhido viver em Sodoma, mas Deus não lhe dera a posse da terra, e nem a daria. Ló seria um peregrino em Sodoma (Génesis 19:9), e por muito pouco tempo. Dar a vantagem a Ló não foi desistir das esperanças para o futuro, pois, em última análise, é Deus quem dá bênçãos aos homens pela Sua escolha soberana.

Enquanto Abrão olhava a terra, talvez ele tenha visto a rica lama negra do vale do Jordão para onde Ló se dirigiu. Talvez ele tenha visto também a poeira que se levantava ao seu redor, ao tipificar a terra onde viveria. No entanto, Deus usou esse pó como testemunho das bênçãos por vir. A sua descendência seria tão abundante quanto o pó que dominava aquela terra. Abrão não devia mais olhar para ele com dúvida, mas com esperança, pois ele ia ser o símbolo das bênçãos futuras.

A palavra final de Deus a Abrão nesta visitação foi que ele devia avaliar a terra que um dia seria sua. Por enquanto ele não devia possuí-la, só examiná-la com os olhos da fé. A promessa "porque eu ta darei" (Génesis 13:17) é futura. Ela só foi cumprida quando os Israelitas, sob a liderança de Josué, ocuparam a terra. Leva tempo tomar posse das promessas de Deus, pois é assim que Ele tem planeado. Como Deus é gracioso ao falar palavras de conforto e segurança quando todas as bênçãos parecem fora de alcance! Como é bom ser relembrado de que a Sua Palavra é fiel e as Suas promessas são tão certas quanto Ele é soberano!


A Resposta de Abrão (Génesis 13:18)

A resposta de Abrão revela uma fé crescente no Deus que o chamou. Ele muda as suas tendas em direcção a Hebrom, ao estabelecer-se próximo aos carvalhais de Manre. Este era um pedaço de terra que pertencia a outra pessoa, não a Abrão (Génesis 14:3), mas era onde Deus queria que ele ficasse. Ali Abrão constrói um altar e adora a Deus. Como foram diferentes os caminhos daqueles dois homens depois que eles se separaram! Um, pouco a pouco, foi avançando quase sem perceber em direcção à cidade de Sodoma, para viver entre homens ímpios e perigosos; e tudo por causa de vantagens financeiras. O outro foi viver como peregrino, ao habitar nas colinas áridas, ao esperar pelas promessas de Deus. Um viveu em tendas e construiu um altar para adorar a Deus; o outro trocou a sua tenda por um apartamento na cidade de homens perversos. Eis uma decisão que pesou muito no destino dos dois homens, mas, muito mais que isso, no destino dos seus descendentes.


Conclusão

As decisões tomadas por Abrão e por Ló são as mesmas que todos os cristãos precisam tomar. Precisamos decidir se confiamos na soberania de Deus ou na nossa própria astúcia e engenhosidade. Precisamos resolver se confiamos na "instabilidade da riqueza" ou no Deus que "tudo nos proporciona ricamente" (1 Timóteo 6:17). Precisamos escolher se investimos nos "prazeres passageiros do pecado" ou no futuro "galardão" prometido por Deus (Hebreus 11:25-26). Na separação de Ló e Abrão, podemos ver o grande contraste entre as suas decisões. Ló preferiu agir com base no que lhe era útil; Abrão com base na união. Em prol da união, Abrão estava disposto a ser passado para trás (1 Coríntios 6:1-11, em especial o versículo 7). Ele agiu com base na fé no Deus que lhe prometera suprir todas as coisas. Ló preferiu dirigir a sua vida sobre a base incerta da segurança financeira. Abrão foi ricamente abençoado, Ló perdeu tudo o que tinha. Ló preferiu habitar numa cidade que parecia um paraíso (Génesis 13:10), mas que estava cheia de pecadores. Abrão decidiu viver num lugar deserto, mas onde poderia livremente adorar a Deus.

Abrão é uma bela ilustração da verdade de dois factos do Novo Testamento. Primeiro, ele fornece uma explicação para estas palavras, ditas pelo nosso Senhor:

"Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra.

Bem-aventurados os pacificadores, pois serão chamados filhos de Deus" (Mateus 5:5, 9).

Abrão era um homem de mansidão. Ele não era um fraco, como iremos ver em Génesis 14. Ele não teve de agarrar a bênção à força, só teve de esperá-la confiantemente das mãos de Deus. Ele era um homem que costumava manter a paz, não sacrificá-la por prosperidade. Portanto, vemos que este incidente na vida de Abrão também é educativo quando o comparamos com as palavras do apóstolo Paulo:

"Se há, pois, alguma exortação em Cristo, alguma consolação de amor, alguma comunhão do Espírito, se há entranhados afectos e misericórdias, completai a minha alegria, de modo que penseis a mesma cousa, tenhais o mesmo amor, sejais unidos de alma, tendo o mesmo sentimento. Nada façais por partidarismo ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo. Não tenha cada um em vista o que é propriamente seu, senão também cada qual o que é dos outros. Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus" (Filipenses 2:1-5).

Abrão foi bem sucedido porque foi servo. Ele não foi bem sucedido porque passou por cima daqueles que cruzaram o seu caminho. Ele foi exaltado por Deus porque colocou os interesses dos outros acima dos seus. Abrão não considerava Ló superior a si mesmo, como algumas traduções erroneamente sugerem. Certamente o nosso Senhor, que é o supremo exemplo de humildade, não considerava os homens caídos e pecaminosos superiores a Si mesmo, o Deus infinito e sem pecado. Pelo contrário, Ele Se dispôs a garantir o favor do Pai aos homens às custas de Si mesmo. Ele esperou por bênção e justiça em Deus (1 Pedro 2:23).

A forma do mundo para o sucesso é pensar só em si mesmo, ao procurar ser o número um, pois foi assim com Ló. A forma de Deus para ser abençoado é erguer os olhos para o Número Um, ao preocupar-se com os outros (Mateus 22:36-40). Esse tipo de vida só se pode ter pela fé, pois esse tipo de vida só pode fazer a nossa fé em Deus crescer.

O ponto de partida para todo o homem, mulher ou criança é receber de Deus a salvação. Não podemos, não ousamos, confiar na nossa própria astúcia para garantir a nossa entrada no reino de Deus. Muitas vezes, aquilo que pensamos ser o "paraíso" logo será destruído pela ira de Deus. A fé reconhece a nossa pecaminosidade e confia na obra de Jesus na cruz do Calvário para receber as bênçãos e a segurança eterna. Os nossos maiores esforços estão fadados à destruição. Só aquilo que Deus promete, e nos dá, é que irá permanecer.

Estudos sobre Génesis 13

INTRODUÇÃO

A vida de Abraão foi marcada por uma série de altos e baixos. Ele era um homem de verdadeira fé, e como todos os santos do Senhor, ele passou por períodos de declínio espiritual. Após a sua queda em Génesis 12, ele estava a brilhar novamente para Deus em Génesis 13.


1. A RESTAURAÇÃO DE ABRAÃO - GÉNESIS 13:1-4.

Embora Abraão tenha falhado com Deus no Egipto, o Senhor não o abandonou [Salmo 37:23-24]. Através do castigo ele foi restaurado novamente para Deus [Hebreus 12:6-11]. Embora a fé das pessoas regeneradas possa falhar de vez em quando, ela nunca é vencida [Hebreus 12:2; Lucas 22:32]. Abraão voltou para Canaã e à comunhão com Deus, pois ele tinha confiado na sua própria sabedoria quando desceu ao Egipto. Cada passo de descrença envolveu-o em maiores dificuldades. Depois de ser castigado e lembrado da habilidade de Deus em cuidar dos Seus filhos, ele retornou ao lugar onde havia abandonado a Deus, e então começou novamente a ter comunhão com Ele. A oração de Abraão sem dúvida incluiu uma confissão do seu pecado [1 João 1:7-9].


2. UM PROBLEMA - GÉNESIS 13:5-7.

Os Cristãos nunca vão muito longe sem se depararem com problemas. Deus havia enriquecido tanto a Abraão e a Ló, que se tornou difícil para eles viverem perto um do outro. Começou a ocorrer um atrito entre os seus pastores, que aumentou dia-a-dia. Não podemos afirmar, mas imaginamos que em parte este problema veio pela desobediência inicial de Abraão, que falhou em se separar totalmente da sua parentela [Génesis 12:1].

Em Génesis 13:7 mostra-nos que os habitantes originais de Canaã estavam presentes lá. Uma importante lição deveria ser observada aqui, pois os Cristãos terão sempre as suas diferenças e desacordos. No entanto devemos lembrar que o mundo e os inimigos de Deus estão a assistir, pois o mundo adora ver os Cristãos a brigar e a desonrarem a Deus. Vamos sempre ser cuidadosos no nosso comportamento quando tratarmos com outros crentes, de maneira que venhamos a agradar a Deus [1 Coríntios 6:1-7 ilustra isto].


3. UMA RESPOSTA ESPIRITUAL - GÉNESIS 13:8-9.

Abraão verdadeiramente manifestou um espírito Cristão aqui. Ao lembrar-se de que ele e Ló eram "irmãos", demonstrou que não queria brigar. Ele parecia valorizar o seu relacionamento com o povo de Deus. Ao ser um homem mais velho, ele poderia ter decidido as coisas à sua maneira, mas rebaixou-se para Ló [1 Pedro 5:5; 1 Coríntios 6:7]. Em tudo isso ele agiu como um homem de mente espiritual [1 Coríntios 3:1-3]. Devemos perceber que enquanto nós nunca deveríamos desenvolver uma raiz de amargura contra outro Cristão, às vezes a separação é a melhor opção. Como ocorreu com Paulo e Barnabé, às vezes os homens mortais não podem encarar-se face a face [Actos 15:36-41]. Entretanto, o amor Cristão deveria permanecer.


4. UMA DECISÃO CARNAL - GÉNESIS 13:10-13

Ló era um verdadeiro filho de Deus [2 Pedro 2:6-9]. Infelizmente, ele ilustrou a verdade de que os santos podem fazer decisões carnais e sofrerem grandes perdas. Note-se os erros de Ló:

A. Ele casou-se com uma mulher que não temia a Deus e teve graves consequências na sua vida como resultado dessa decisão.

B. Ele tomou decisões sem primeiro orar [Provérbios 3:5-6]. Diferente de Abraão, a Bíblia não menciona que ele tivesse muita comunhão com Deus.

C. As suas decisões foram baseadas somente em factores mundanos [Génesis 13:10], sem nenhuma preocupação das implicações espirituais [Génesis 13:13]. Quando a sua vida é explanada diante de nós, vemos que ele estava constantemente ocupado nos negócios deste mundo.


Vejamos o que Ló perdeu em razão da sua vida espiritual descuidada:

A. Ele perdeu a paz e a alegria de espírito [2 Pedro 2:7-8].

B. Ele perdeu a sua família. A sua mulher e alguns dos seus filhos morreram quando Sodoma foi julgada. As suas outras duas filhas deram muitas evidências de que não conheciam a Deus.

C. Ele perdeu na sua influência. Não há evidências de nenhuma conversão em Sodoma. Até mesmo a sua família não levou a sério as suas advertências espirituais [Génesis 19:14].

D. Os seus descendentes tornaram-se uma maldição para o povo de Deus [Génesis 19:36-38].

E. Ele caiu em pecados grosseiros [Génesis 19:30-38].

F. Parece que ele foi corrigido por Deus [Génesis 14], mas não tirou proveito disso, o que levou Deus a exercer uma disciplina mais séria de Génesis 19.

G. Em geral podemos dizer, que enquanto a alma de Ló estava salva, a sua vida foi perdida. Devemos considerar a importância de caminharmos em obediência com o Nosso Salvador.


5. AO ANDAR COM DEUS - GÉNESIS 13:14-18.

Enquanto Ló estava a aprender que este mundo não pode dar satisfação, Abraão estava a desfrutar da comunhão com Deus. Vamos meditar seriamente neste contraste. Porventura Abraão não escolheu a melhor parte?

Uma vez mais Deus faz promessas a Abraão. Estas promessas referem-se à Aliança da Palestina. A terra da Palestina foi dada como uma concessão perpétua a Abraão e à sua semente. É fascinante ver Israel hoje de volta à sua terra.

Alguns têm perguntado como as promessas de Deus a respeito de uma herança terrena, pode se encaixar com a passagem de Hebreus 11:8-10. Devemos lembrar-nos de que Abraão será ressuscitado para reinar com Cristo aqui na terra [Mateus 8:11]. Um dia o reino de Deus se manifestará visivelmente na nova e transformada terra. Abraão morreu sem possuir um acre da terra de Canaã [Actos 7:2-5], no entanto, ele desfrutará desta herança por toda a eternidade.

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