Génesis Capítulo 4

Os Frutos da Queda (Génesis 4:1-26)

Introdução

Quando pecamos, muitas vezes o fazemos na vã esperança de alcançar o máximo de prazer com um mínimo de punição. No entanto, raramente funciona dessa maneira. Certa vez ouvimos a história de um homem que, junto com a esposa, resolveu ir a um drive-in movie para assistir a um filme. Eles acharam que o preço do ingresso era alto demais e engendraram um plano para enganar a administração do cinema. Ao aproximarem-se do local, o marido desceu do carro e enfiou-se no porta-malas. O combinado era que a sua esposa o deixaria sair quando estivessem dentro do cinema. Tudo correu como planeado, pelo menos até passarem pelo vendedor de bilhetes. Mas, quando a esposa se dirigiu à traseira do carro para deixar o marido sair, descobriu que ele estava com a chave do porta-malas. Em desespero, ela teve de chamar o gerente, a polícia e o esquadrão de resgate. Além deles não verem o filme, o porta-malas teve de ser arrombado. Assim é o caminho do pecado. O trajecto é curto, mas o preço é alto demais.

À primeira vista, pegar o fruto proibido e comê-lo parecia uma coisa sem importância, um delito qualquer. No entanto, em Génesis 3 deixa-se claro que esta foi uma questão da maior gravidade. O homem preferiu acreditar em Satanás a crer em Deus. Adão e Eva concluíram que Deus era desnecessariamente cruel e rigoroso. Eles resolveram buscar o caminho da auto-realização em vez do caminho da sujeição.

A serpente tinha sugerido, na verdade, tinha tido a ousadia de afirmar, que a desobediência a Deus não lhes trairia nenhum prejuízo, só um nível de existência mais elevado. No entanto, em Génesis 4, logo vemos que as promessas de Satanás foram mentiras descaradas. Aqui, o verdadeiro salário do pecado começa a aparecer.


O Fruto da Queda na Vida de Caim (Génesis 4:1-15)

A união sexual de Adão e Eva gerou a primeira criança, um filho a quem Eva deu o nome de Caim. Esse nome provavelmente deve ser entendido como um jogo de palavras. Ele soa semelhante à palavra hebraica Qanah, que significa "conseguir" ou "adquirir". Em termos actuais, esse filho provavelmente seria chamado de "Adquirido".

A implicação é que o nome reflecte a fé que Eva tinha em Deus, pois ela disse: "Adquiri (Qaniti, de Qanah) um varão com o auxílio do Senhor" (Génesis 4:1). Embora haja alguma discussão entre os estudiosos da Bíblia quanto ao significado preciso dessa afirmação, o facto é que Eva reconheceu a acção de Deus ao lhe dar um filho. Cremos que ela compreendeu, pela profecia de Génesis 3:15, que alguém da sua descendência traria a sua redenção. Talvez ela visse Caim como o seu redentor. Se foi isso, ela estava fadada ao desapontamento. Mesmo que ela tenha se enganado em ter esperanças de alcançar uma rápida vitória sobre a serpente com o nascimento do seu primogénito, ela estava certa em esperar a libertação de Deus por meio da sua descendência. Portanto, ela estava certa no geral, mas enganada no particular.

À época do nascimento do seu segundo filho, Abel, o optimismo de Eva parece ter-se desvanecido. O nome dele significava "vaidade", "sopro" ou "vapor". Talvez Eva já tivesse aprendido que as consequências do pecado não seriam rapidamente eliminadas. A vida envolveria luta e uma boa dose de esforço aparentemente inútil. Caim foi o símbolo da esperança de Eva; Abel, do seu desespero.

Abel foi pastor de ovelhas, Caim, lavrador. Em parte alguma Moisés dá a entender que uma dessas ocupações fosse inferior à outra. Nem este relato é algum tipo de precursor dos programas de televisão que ficam a discutir o eterno conflito entre grandes pecuaristas e pequenos agricultores.

O problema de Caim não estava no seu meio de subsistência, mas na sua própria pessoa:

"Aconteceu que no fim de uns tempos trouxe Caim do fruto da terra uma oferta ao Senhor. Abel, por sua vez, trouxe das primícias do seu rebanho, e da gordura deste. Agradou-se o Senhor de Abel e de sua oferta; ao passo que de Caim e de sua oferta não se agradou" (Génesis 4:3-5).

Os israelitas que primeiramente leram estas palavras de Moisés tiveram pouca dificuldade em compreender qual foi o problema com o sacrifício de Caim. Eles receberam este relato como parte do Pentateuco, os cinco primeiros livros da Bíblia. Como tal, eles entenderam que um homem não poderia se aproximar de Deus sem o derramamento de sangue sacrificial. Embora houvesse sacrifícios sem sangue, um homem só poderia ter acesso a Deus por meio de sangue derramado. A oferta de Caim não atendeu aos requisitos da lei de Deus.

Alguns poderiam objectar: "Mas Caim ainda não tinha essa revelação!" Absolutamente certo. No entanto, todos nós precisamos admitir que ninguém sabe qual era a revelação que ele tinha. Qualquer especulação sobre o assunto é somente isso - pura conjectura. Ao dizer isto, deve-se ressaltar que não era necessário Moisés ter nos contado esta história. Os seus contemporâneos tinham base mais que suficiente para compreender a importância do sangue derramado, devido às meticulosas prescrições da Lei sobre sacrifício e adoração. E os cristãos da nossa época têm a vantagem de ver o assunto mais claramente à luz da cruz e da compreensão de que Jesus é "o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo" (João 1:29).

Embora nós não saibamos qual a revelação dada por Deus a Adão ou a seus filhos, temos a certeza de que eles sabiam o que deviam fazer. Isso fica claro nas palavras de Deus a Caim:

"Então lhe disse o Senhor: Por que andas tão irado? E por que descaiu o teu semblante? Se procederes bem, não é certo que serás aceito? Se, todavia, procederes mal, eis que o pecado jaz à porta; o seu desejo será contra ti, mas a ti cumpre dominá-lo (Génesis 4:6-7).

A pergunta feita por Deus claramente implica que a raiva de Caim era infundada. Embora não conheçamos os detalhes envolvidos nesse "proceder bem", Caim conhecia. O seu problema não era falta de instrução, era insurreição e rebelião contra Deus. Caim, como muitas pessoas hoje em dia, queria se aproximar de Deus, mas queria fazer as coisas à sua maneira. Como diz um amigo, "você pode ir para o céu do jeito de Deus, ou pode ir para o inferno do jeito que quiser". Vamos observar que Caim não era uma pessoa descrente. Ele acreditava em Deus, e queria a Sua aprovação. Mas ele queria fazer as coisas nos seus termos, não nos termos de Deus. O inferno, como já se disse, vai estar cheio de pessoas religiosas. Caim não quis aproximar-se de Deus por meio de sangue derramado. Ele preferiu oferecer a Deus o fruto do seu trabalho. Ele gostava do verde das plantas, e mãos vermelhas de sangue não era o que mais gostava. Os homens de hoje não são muito diferentes dele. Há muitas pessoas que, como os demónios (Tiago 2:19), acredita em Deus e reconhece que Jesus é o Filho de Deus. Contudo, essas pessoas não querem sujeitar-se a Ele como Senhor. Elas não aceitam a Sua morte sacrificial e substitutiva na cruz como pagamento pelos seus pecados. Elas querem aproximar-se de Deus nos seus próprios termos. A mensagem do Evangelho é bastante clara: ninguém pode ir a Deus, a não ser por meio daquilo que Jesus conquistou na cruz com a Sua morte.

"Jesus lhe disse: Eu sou o caminho, a verdade e a vida, ninguém vem ao Pai senão por mim" (João 14:6).

"E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos" (Actos 4:12).

"Com efeito, quase todas as cousas, segundo a lei, se purificam com sangue, e sem derramamento de sangue, não há remissão" (Hebreus 9:22).

"...mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo" (1 Pedro 1:19; Lucas 22:30; Actos 20:28; Romanos 3:25; 5:9; Efésios 1:7).

Como Deus foi gracioso ao buscar Caim e gentilmente a confrontá-lo com a sua raiva pecaminosa! Como foi clara a Sua mensagem de restauração e da Sua advertência sobre o perigo que rodeava Caim! Mas o conselho de Deus foi rejeitado. Teria sido muito fácil para Ele corrigir Caim ao compará-lo com Abel. É assim que nós, pais, muitas vezes disciplinamos os nossos filhos. No entanto, Deus não disse: "Por que você não me adora igual ao seu irmão?" Em vez disso, Ele mostrou a Caim o padrão que Ele havia estabelecido, não o exemplo do seu irmão. Mesmo assim, Caim fez a ligação. A sua oferta não foi aceite, a de Abel foi. Deus gentilmente o repreendeu e lhe disse que a maneira de receber a Sua aprovação era ao submeter-se ao padrão divino de acesso a Ele. Caim concluiu que a solução era eliminar a concorrência - e assassinar o seu irmão.

Uma coisa precisa ficar clara. O problema não foi só o sacrifício. O problema maior encontrava-se na pessoa que procurou apresentar a oferta. Moisés nos diz:

"Agradou-se o Senhor de Abel e de sua oferta; ao passo que de Caim e de sua oferta não se agradou" (Génesis 4:4-5).

A fonte do problema estava em Caim, o sacrifício foi só o sintoma.

Em Génesis 7 está cheio de implicações:

"Se procederes bem, não é certo que serás aceito? Se, todavia, procederes mal, eis que o pecado jaz à porta; o seu desejo será contra ti, mas a ti cumpre dominá-lo" (Génesis 4:7).

A maneira de superar a depressão era Caim mudar de atitude. Ele sentiria-se melhor quando procedesse melhor. Em certo sentido, Caim estava certo em zangar-se consigo mesmo. No que ele não estava certo era na sua animosidade contra o irmão e contra Deus. Se ele preferia ignorar o leve puxão de orelhas de Deus, então que estivesse plenamente ciente dos perigos à sua frente. O pecado esperava por ele como um animal à espreita. Ele queria controlá-lo, mas Caim devia dominá-lo. Caim tinha de enfrentar uma decisão e ser responsável pela sua escolha. Ele não precisava sucumbir ao pecado, assim como nós também não precisamos, pois Deus sempre nos dá graça suficiente para resistir à tentação (1 Coríntios 10:13). Quando os dois homens estavam em campo aberto (aparentemente, onde não havia testemunhas, Deuteronómio 22:25-27), Caim matou o irmão. Deus, então, foi até ele para julgá-lo:

"Disse o Senhor a Caim: Onde está Abel, teu irmão? Ele respondeu: Não sei; acaso sou eu tutor de meu irmão?" (Génesis 4:9).

A insolência de Caim é inacreditável. Ele não apenas mente quando nega saber o paradeiro do irmão, como também parece censurar a Deus pela pergunta. Talvez haja até mesmo um jogo sarcástico de palavras, ao dar a impressão de: "Sei lá. Será que tenho de pastorear o pastor?"

Antes, o solo tinha sido amaldiçoado por causa de Adão e Eva (Génesis 3:17). Agora é a terra que é manchada com o sangue de um homem, derramado pelo seu próprio irmão. Esse sangue agora clama a Deus por justiça (Génesis 4:10). Deus, então, confronta Caim com o seu pecado. O tempo para arrependimento já passou e agora a sentença é dada a Caim pelo Juiz da Terra. Não é o solo que é amaldiçoado de novo, mas Caim:

"És agora, pois, maldito por sobre a terra, cuja boca se abriu para receber de tuas mãos o sangue de teu irmão. Quando lavrares o solo, não te dará ele a sua força; serás fugitivo e errante pela terra" (Génesis 4:11-12).

Caim tinha sido abençoado com um "gosto por plantas". Ele tentou aproximar-se de Deus com o fruto do seu trabalho. Agora Deus o amaldiçoa justamente na área da sua especialidade e do seu pecado. Nunca mais ele seria capaz de se sustentar pelo cultivo do solo. Enquanto Adão teve de obter o seu sustento com o suor do seu rosto (Génesis 3:19), Caim não ia poder nem sobreviver da agricultura. Para ele, a maldição do capítulo três foi intensificada. Para Adão, a agricultura foi difícil; para Caim, foi um desastre.

A reacção de Caim à primeira repreensão de Deus foi sombria e silenciosa, seguida de pecado. Agora, após a sua sentença ter sido pronunciada, ele não está mais calado, mas não há sinal de arrependimento, só de pesar.

"Então, disse Caim ao Senhor: É tamanho o meu castigo, que já não posso suportá-lo. Eis que hoje me lanças da face da terra, e da tua presença hei de esconder-me; serei fugitivo e errante pela terra; quem comigo se encontrar me matará" (Génesis 4:13-14).

As suas palavras soam familiares a qualquer pai. Às vezes, uma criança fica realmente triste por causa da sua desobediência. Em outras, no entanto, só fica triste por ter sido pega, ao lamentar amargamente o duro castigo que vai receber. A única coisa que Caim faz é repetir com amargor a sua sentença, ao expressar o medo de que os homens o tratem da mesma forma com que ele tratou o seu irmão. Deus garante-lhe que, embora a vida humana valesse pouco para Caim, Ele (Deus) a valorizava muito. Ele não permitiria nem que o sangue de Caim fosse derramado. Não podemos dizer com certeza qual a natureza exacta do sinal designado para Caim. Talvez fosse uma marca visível, mas o mais provável é que tenha sido algum tipo de acontecimento ao confirmar que Deus não o deixaria ser morto.

Génesis 4:15 tem um duplo propósito. O primeiro é garantir a Caim que ele não sofreria uma morte violenta pelas mãos de um homem. O segundo é uma clara advertência a quem quer que pensasse em tirar a sua vida. Observe-se que as palavras "assim, qualquer que matar a Caim será vingado sete vezes" (Génesis 4:15) não são ditas a Caim, mas de Caim. Deus não disse: "qualquer que o matar", mas "qualquer que matar a Caim".

Em seguida, temos uma genealogia parcial da linhagem de Caim. Cremos que Moisés a usou para mostrar a sua impiedade (e a pecaminosidade do homem iniciada na Queda) nos seus descendentes, e para servir de contraste com a genealogia de Adão por meio de Sete em Génesis 4:5. Caim habitou na terra de Node. Depois do nascimento do seu filho, Enoque, ele deu este nome a uma cidade que edificou. Parece que fundar essa cidade foi um acto de rebelião contra Deus, O qual tinha dito que ele seria fugitivo e errante (Génesis 4:12). Lameque manifesta o nível mais baixo atingido pela raça humana.

"Lameque tomou para si duas esposas: o nome de uma era Ada, a outra se chamava Zilá. Ada deu à luz a Jabal; este foi o pai dos que habitam em tendas e possuem gado. O nome de seu irmão era Jubal; este foi o pai de todos os que tocam harpa e flauta. Zilá, por sua vez, deu à luz a Tubalcaim, artífice de todo instrumento cortante, de bronze e de ferro; a irmã de Tubalcaim foi Naamá. E disse Lameque às suas esposas: Ada e Zilá, ouvi-me; vós, mulheres de Lameque, escutai o que passo a dizer-vos: Matei um homem porque ele me feriu; e um rapaz porque me pisou. Sete vezes se tomará vingança de Caim, de Lameque, porém, setenta vezes sete" (Génesis 4:19-24).

Ele parece ser a primeira pessoa a afastar-se do ideal divino para o casamento descrito em Génesis 2. Uma esposa não era suficiente para ele, por isso Lameque teve duas, Ada e Zilá. Seria de esperar que Moisés só tivesse palavras de condenação para Lameque. Com certeza, nada de bom poderia vir de tal homem. No entanto, é dos seus descendentes que vêm as grandes contribuições culturais e científicas. Um filho tornou-se o pai dos pastores nómadas, outro foi o primeiro de uma linhagem de músicos, e o terceiro foi o primeiro dos grandes artífices de metal. Precisamos fazer uma pausa para dizer que mesmo o homem no seu pior estado não é incapaz de produzir aquilo que é considerado benéfico à raça humana. É preciso dizer também que as contribuições humanas podem rápida e facilmente ser adaptadas para a ruína do próprio homem. A música pode atrair e levar os homens ao pecado. A habilidade dos artífices em metal pode ser usada para produzir utensílios de pecado (ídolos, por exemplo, Êxodo 32:1). Para os ímpios, a linhagem de Caim foi origem de muitas coisas louváveis. Mas os verdadeiros frutos do pecado são revelados nas palavras de Lameque às suas esposas. Adão e Eva tinham pecado, mas o arrependimento e a fé estavam implícitos depois de receberem a sua sentença. Caim matou Abel, seu irmão, e, embora não tenha se arrependido totalmente, ele não pôde justificar a sua atitude. Lameque leva-nos ao ponto da história humana onde o pecado não é apenas cometido com descaramento, mas com prepotência. Ele se vangloria do seu assassinato para as suas esposas. Mais do que isso, ele gaba-se do seu pecado ter sido cometido contra um rapaz que simplesmente o feriu. Esse assassinato foi brutal, ousado e intempestivo. Pior ainda, Lameque demonstra desdém e desrespeito para com a Palavra de Deus: "se Sete vezes se tomará vingança de Caim; de Lameque, porém, setenta vezes sete" (Génesis 4:24). Deus tinha dito essas palavras para garantir a Caim que ele não seria morto pelas mãos de um homem. Ele também notificou aos homens a gravidade desse acto. Tais palavras foram pronunciadas para mostrar o facto de que Deus dá valor à vida humana. Lameque as torceu e distorceu para ostentar a sua violenta e agressiva hostilidade contra o homem e contra Deus. Eis um homem que estava a ir directo para o fundo do poço!


Um Vislumbre de Graça (Génesis 4:25-26)

Em Romanos 5, o apóstolo Paulo tem muito a dizer sobre a queda do homem no livro de Génesis. Contudo, nesse mesmo capítulo, encontramos estas palavras de esperança: "mas onde abundou o pecado, superabundou a graça" (Romanos 5:20).

O pecado certamente abundou na linhagem de Caim, mas o capítulo não termina sem um vislumbre da graça de Deus.

"Tornou Adão a coabitar com sua mulher; e ela deu à luz um filho, a quem pôs o nome de Sete; porque, disse ela, Deus me concedeu outro descendente em lugar de Abel, que Caim matou. A Sete nasceu-lhe também um filho, ao qual pôs o nome de Enos; daí se começou a invocar o nome do Senhor" (Génesis 4:25-26).

Eva tinha esperança de que a salvação viesse por meio do seu primeiro filho, Caim, o que, com certeza, não viria dele, nem dos seus descendentes. Nem poderia vir de Abel. No entanto, outro filho foi dado a ela, cujo nome, Sete, significa "designado". Ele não foi só um substituto para Abel (Génesis 4:25), ele foi o descendente por meio de quem nasceria o Salvador. Sete também teve um filho, Enos. Começava a ficar claro que a libertação esperada por Adão e Eva não viria logo, mas, apesar de tudo, viria. E foi assim que naqueles dias os homens começaram "a invocar o nome do Senhor" (Génesis 4:26). Entendemos que este seja o início do culto colectivo. No meio a uma geração perversa e deformada havia um remanescente fiel que confiava em Deus e esperava pela Sua salvação.


Conclusão

O Novo Testamento é, sem dúvida, o melhor comentário sobre este capítulo, além de nos informar sobre os seus princípios e aplicações práticas. Esta narrativa não é simplesmente um registo da história de dois homens que viveram há muito tempo, num lugar longínquo. A nossa Bíblia nos diz que esta é uma descrição de dois caminhos, o caminho de Abel e o caminho de Caim.

"Ai deles! Porque prosseguiram pelo caminho de Caim, e, movidos de ganância, se precipitaram no erro de Balaão, e pereceram na revolta de Coré" (Judas 11).

Judas adverte os seus leitores acerca dos falsos crentes (Judas 11:4). Eles não são salvos, mas esforçam-se para se passar por crentes e perverter a verdadeira fé, ao afastar os homens de experimentar a graça de Deus. Em Judas 11:11 tais homens são descritos como a serem como Caim. Eles são como ele no sentido de serem rebeldes que se escondem sob a bandeira da religião. O mundo de hoje está cheio de religião, e o inferno estará cheio de gente religiosa. No entanto, há uma diferença substancial entre quem é justo e quem é apenas religioso. Quem é realmente salvo, como Abel, achega-se a Deus como pecador e sabe que só é salvo por causa do sangue derramado do perfeito Cordeiro de Deus, o Senhor Jesus Cristo. Todos os outros tentam ganhar a aprovação de Deus ao oferecerem o trabalho das suas mãos. O "caminho de Caim" é uma fila interminável de quem quer alcançar o céu "da sua própria maneira" e não da maneira de Deus.

A ironia do caminho de Caim é que ele é claramente marcado. Embora quem o siga pareça oferecer a Deus boas obras, o seu coração é corrupto.

"Porque a mensagem que ouvistes desde o princípio é esta: que nos amemos uns aos outros; não segundo Caim, que era do Maligno e assassinou a seu irmão, e por que o assassinou? Porque as suas obras eram más, e as de seu irmão, justas" (1 João 3:11-12).

Os perversos não conseguem suportar quem é verdadeiramente justo. Eles proclamam amor fraternal, mas não o praticam. Não é de admirar, então, que os líderes religiosos da época de Jesus O tenham rejeitado e entregado à morte com o auxílio dos gentios. Foi isso o que João explicou no seu evangelho.

"A vida estava nele e a vida era a luz dos homens. A luz resplandece nas trevas, e as trevas não prevaleceram contra ela... a saber, a verdadeira luz que, vinda ao mundo, ilumina a todo homem. O Verbo estava no mundo, o mundo foi feito por intermédio dele, mas o mundo não O conheceu. Veio para o que era Seu e os Seus não O receberam" (João 1:4-5, 9-11).

Para aqueles que andam no caminho de Caim há pouca razão para esperança. Talvez existam ganhos ilusórios de cultura ou tecnologia, mas, no final das contas, eles vão ter a mesma sorte de Caim. Vão passar os seus dias longe da presença de Deus e vão perceber, finalmente, que os seus dias na Terra foram cheios de tristeza e pesar. Nós, porém, podemos nos regozijar, pois há um caminho melhor, o caminho de Abel.

"Pela fé, Abel ofereceu a Deus, mais excelente sacrifício do que Caim; pelo qual obteve testemunho de ser justo, tendo a aprovação de Deus quanto às suas ofertas. Por meio dela, também mesmo depois de morto, ainda fala" (Hebreus 11:4).

"Para que dessa geração se peçam contas do sangue dos profetas, derramado desde a fundação do mundo; desde o sangue de Abel até ao de Zacarias, que foi assassinado entre o altar e a Casa de Deus. Sim, eu vos afirmo, contas serão pedidas a esta geração" (Lucas 11:50-51).

"E a Jesus, o Mediador da nova aliança, e ao sangue da aspersão que fala cousas superiores ao que fala o próprio Abel" (Hebreus 12:24).

O que fez a diferença entre Caim e Abel foi a fé. Abel não confiou em si mesmo, mas em Deus. O seu sacrifício foi um sacrifício melhor porque evidenciava a sua fé e reflectia que o seu alvo era Deus. Sem dúvida ele também tinha alguma compreensão do valor do sangue derramado de uma vítima inocente. Mas Abel foi mais do que um exemplo de crente primitivo, ele foi, de acordo com o nosso Senhor, um profeta. Talvez também pelos lábios, mas com certeza pelas suas obras ele proclamou ao irmão o caminho de acesso a Deus. Ele também foi profeta quando predisse na sua morte o destino de muitos que viriam tempos depois para pregar a palavra de Deus aos não crentes.

Embora Deus tenha valorizado o sangue de Abel que foi derramado pela sua fé, esse sangue não deve ser comparado àquele mais excelente que foi derramado por Jesus Cristo. O sangue de Abel foi um testemunho de fé. O sangue de Cristo é o agente purificador pelo qual os homens são purgados dos seus pecados e libertos do castigo da eterna separação de Deus. Será que já depositámos a nossa fé no sangue de Jesus como meio de Deus, o único meio, para nos purificar dos nossos pecados? Por que não fazemos isto hoje mesmo?

Uma História de Três Irmãos - Génesis 4

Introdução: Nas últimas semanas temos ouvido de um perigo que ameaça a raça humana chamado "gripe aviária". Trata-se de um vírus que se teme pode passar por uma mutação, e passar facilmente de pássaros como patos, galinhas ou perus para homens. Se acontecer, dizem alguns, facilmente poderia tornar-se não somente uma epidemia, mas uma pandemia, ao afectar o mundo inteiro, com a morte de milhões, como já aconteceu 3 vezes nos últimos 100 anos. Talvez nós pensemos, "Como pode um vírus num pato no Vietname ser um perigo para nós aqui em Portugal?" Mas não se trata de algo a ser tratado levianamente. O perigo pode ser muito pior do que nós imaginamos. Podemos imaginar o primeiro casal, Adão e Eva, logo após do pecado ter entrado no mundo. O engano da Serpente injectou o veneno do pecado nas veias da raça humana. Deus havia predito a morte como consequência. Mas parecia que os efeitos do veneno eram lentos. Afinal de contas, ninguém havia morrido. Além disso, Deus havia prometido um antídoto! Alguém nascido da mulher, um descendente dela, iria anular os efeitos do veneno, ao esmagar a Serpente no processo. Quando abrimos as páginas de Génesis 4, esta é a cena que encontramos... Mas vamos descobrir que o veneno do pecado de facto iniciou uma pandemia, que espalhou-se rapidamente e mata milhões de pessoas eternamente. Adão e Eva ainda não entendiam as implicações da sua rebeldia. Génesis 4 mostra como todas essas expectativas seriam frustradas. De facto, Adão e Eva, o seu pecado foi muito, muito mais trágico que possamos imaginar. Os seus resultados serão muito mais catastróficos do que conseguimos visualizar. O descendente-Libertador da mulher tão esperado nasceu não como semente de vida, mas de morte. Em vez de libertar da pena da morte, ele tornou-se um assassino! E o filho justo, em vez de esmagar a cabeça da Serpente, foi esmagado pelo próprio irmão, que mostrou-se semente (filho) da Serpente. O redentor que esperam só virá depois de alguns milhares de anos, depois de muito sofrimento, depois de muita morte. E logo nós sentiremos os efeitos desastrosos do nosso pecado, no seio da nossa própria família.

Além disso, este capítulo mostra como as consequências preditas por Deus do pecado entraram rápida e definitivamente na Terra. O veneno espalhou-se! Deus falou da multiplicação de dor na criação dos filhos, e num só dia Eva perdeu dois, da pior forma possível, um filho a matar o outro. Deus amaldiçoou a Terra, para onde o homem voltaria, e a terra não somente produz a oferta maldita de Caim, mas se abre para receber o sangue do seu irmão. E Deus havia prometido que o aguilhão da morte iria ser enfiada no homem, e já vemos Abel morto pelo próprio irmão.

Transição Inicial: Hoje vamos traçar a história familiar de Adão e Eva pelos seus três filhos. Realmente é uma novela triste, mas que termina com esperança. Podemos chamá-la a "Novela das Nove". Contém 3 capítulos, cada capítulo sobre um irmão. De facto, o capítulo não é tanto sobre os três irmãos, quanto sobre os resultados devastadores do pecado somente uma geração distante do primeiro pecado. Também explica algumas origens de civilização humana, criativa, perita, mas longe de Deus.


1. Capítulo 1: Caim. Religiosidade Humana Gera Rebeldia e Morte

A grande ênfase do quarto capítulo de Génesis recai sobre Caim. Boa parte do capítulo mostra o que aconteceu com ele e com os seus descendentes profanos mas criativos. Vamos imaginar, então, a esperança do primeiro casal quando descobriram que Eva estava grávida! Adão havia "conhecido" a sua esposa, um termo eufemístico para descrever uma relação sexual mas que também transmite um elemento de graça no meio das trevas do pecado. Havia ainda oportunidade de vida dentro do propósito original de Deus, de unidade em diversidade, de intimidade. Mas vamos imaginar a expectativa. Será ele a resposta de Deus? Será que Deus vai aliviar o nosso fardo já? Será que o nosso filho será o nosso libertador?

E nasceu o primeiro homem. Eva não contém a sua alegria ao declarar a esperança dela quando dá o nome para ele: Caim. Uma palavra que soa com a palavra hebraica que significa "Adquirir". A explicação: "Adquiri um homem com o Senhor!" A esperança dela não tem limites pois vê a mão de Deus nesse nascimento - um renascer da esperança do Messias!


A. Religiosidade (Génesis 4:3-5)

Quando analisamos a oferta de Caim, podemos concluir que haviam alguns problemas sérios.

Não foi uma oferta autorizada por Deus. Foi algo que Caim queria dar, não algo que Deus havia instituído. Talvez vamos pensar, "Mas não é justo...como Caim iria saber o que Deus quis?" Mas há dicas no texto ao contrário. Em Génesis 4:3 diz, "No fim dos dias", ou seja, numa época pré-determinada, os dois irmãos trouxeram as suas ofertas. Parece que Deus já havia dado instrução quanto a ofertas, dias de culto, etc.

Por isso, a sua oferta foi mais um exemplo de religiosidade do que adoração em espírito e em verdade (João 4:24). Assim como os seus pais, Caim ofereceu a primeira coisa que vinha à mente - o fruto da terra. Mas essa oferta tinha a mancha da maldição sobre ela (Génesis 3:19). Caim estava a tentar "religar-se" a Deus, mas nos termos dele, não de Deus, assim como aquele filho rebelde que tenta "concertar" as coisas com os pais, ao fazer algo para agradar aos pais mas não aquilo que os pais pediram (limpar o quarto ou lavar a louça).

A oferta de Caim barateou o pecado pois não custou nenhuma vida. Sem o derramamento de sangue não há remissão de pecados (Hebreus 9:22). Caim tinha o precedente do Jardim, quando os pais dele ofereceram folhas de figueira, mas Deus sacrificou dois animais pelo pecado de Adão e Eva.

Existe um contraste entre linhas que revela uma indiferença espiritual da parte de Caim. Diz sobre a oferta de Abel que ele deu "da gordura, as primícias" do rebanho. Mas Caim simplesmente deu o que tinha, o fruto da terra. Isso leva-nos para o quinto, e principal problema.

O texto mostra um detalhe super interessante. O problema maior com a oferta de Caim não era a oferta em si, mas o seu coração. Não foi um acto de adoração em verdade (por não ser autorizada por Deus) e não foi em espírito. O coração de Caim estava errado! O texto enfatiza, "Mas com Caim e com sua oferta, Deus não se agradou". Algo no coração dele deixava a desejar...talvez fosse rebeldia, talvez ressentimento, talvez indiferença, talvez apatia espiritual. Talvez ficasse indignado que tinha que doar para um ser celestial invisível o fruto do seu suor e labor. O que sabemos com certeza é que não foi de coração mas "de boca para fora" que ele fez a sua oferta. E os eventos que seguem verificam esse facto. Quando repreendido por Deus, ele revela o seu desgosto, a sua amargura, a sua hostilidade diante do Criador. Algo horrível está a acontecer no coração dele.

Aplicação: O homem continua a oferecer para Deus o que Ele não pediu muito menos autorizou! O homem tenta pela religião dar para Deus aquilo que é manchado pelo pecado. A Bíblia diz que até os nossos actos de justiça são como trapos de imundícia diante da santidade de Deus (Isaías 64:6). Mas o homem continua a tentar "compensar" pelo seu pecado através de boas obras, ou repetições vãs de Ave Marias ou Pai Nossos, ou por actos de caridade, ou por romarias. Muitas vezes é com grande sacrifício que o homem faz tudo isso, mas é inútil, fútil, vazio. Além disso, o homem oferece para Deus sobras, por não conhecer Quem Ele é (Malaquias).


B. Rebeldia Pessoal (Génesis 4:5-15)

1João 3:12 "Amemos uns aos outros, não segundo Caim, que era do maligno e assassinou a seu irmão; e por que o assassinou? Porque as suas obras eram más, e as de seu irmão justas".

Judas 11 "Ai deles! Porque prosseguiram pelo caminho de Caim...(rejeição do plano divino de reconciliação).

Note-se como o "religioso" revela a sua verdadeira natureza quando repreendido por Deus:

Génesis 4:5 "Irou-se pois, sobremaneira...descaiu-lhe o semblante": Se o coração de Caim realmente estivesse a buscar a Deus, ele teria se mostrado arrependido, contrito, quebrantado. Mas ele se exalta contra Deus. Embutida aqui está a ira de fazer comparação e sentir-se injustiçado. Caim não conhecia o seu próprio coração. Não enxergava a diferença interior entre ele e Abel. Por isso ficou bravo. Deus odeia religião mas ama a fé.

Génesis 4:6-7 Teimosia (descuidado com as advertências/palavras do Senhor. Deus advertiu, mas Caim nem fez caso. Eva tinha que ser convencida a pecar pela Serpente, mas nem Deus consegue convencer Caim a não pecar. O pecado era como animal feroz, à espera para emboscá-lo, pronto para saltar e devorá-lo, mas Caim passa adiante, de forma premeditada.

Génesis 4:8 Assassinato premeditado e cruel (vamos ao campo...matou o seu irmão). 7 vezes o texto enfatiza a barbaridade, a crueldade, desse acto "seu irmão" (Génesis 4:2, 8-11).

Génesis 4:9 Mentira, sarcasmo e irreverência

Génesis 4:10-14 Auto-comisseração sem confissão

C. Rebeldia "Civilizada" (Graça Comum e Civilização Vazia) (Génesis 4:16-24)

Caim é banido da presença do Senhor. Nada no texto indica que ele se arrependeu ou confessou o seu pecado. Em vez de contrição, encontramos auto-comisseração. Em vez de aceitar a disciplina do Senhor, ele reivindica os seus direitos e sente-se injustiçado. Nunca apresenta frutos de arrependimento, mas resigna-se a uma vida de vagabundo, longe do Senhor e da sua graça.

Os seus descendentes, ao que tudo indica, seguem os seus passos, cada vez mais distantes do Senhor, com corações vazios, à procura através do desenvolvimento do que alguns chamariam de 'civilização' um bálsamo para corações que perderam o significado da vida.

Agostinho de Hipona, conhecido universalmente como "Santo Agostinho", foi um dos mais importantes teólogos e filósofos dos primeiros anos do cristianismo cujas obras foram muito influentes no desenvolvimento do cristianismo e filosofia ocidental. Como Agostinho de Hipona disse, "O coração do homem não acha descanso, até que descanse no Senhor".

1. Cidades Rebeldes (Génesis 4:16-17) Deus falou que seria um fugitivo e errante pela terra (Génesis 4:12), mas Caim se rebela e habita na primeira cidade, chamada pelo nome do primogénito, Enoque, uma tentativa de anular a maldição e directamente contra a ordem de Deus de espalhar-se e encher a Terra. (Interessante que Salmos 49 também identifica essa como ao ser uma das maneiras pelas quais os perversos tentam escapar ao facto da sua mortalidade, ao darem nomes às suas terras - Salmos 49:11. O seu pensamento íntimo é que as suas casas serão perpétuas, e as suas moradas para todas as gerações; chegam a dar os seus próprios nomes às suas terras.

2.Bigamia (Génesis 4:18-19). Deus estabeleceu o padrão de um homem para uma mulher (Génesis 2:24). Mas a linhagem rebelde de Caim na sexta geração já revela a sua sensualidade, cobiça, insatisfação com o plano de Deus, o seu egoísmo, quando Lameque toma 2 esposas.

3. Cultura Vazia (Génesis 4:20-22). É neste momento que novamente encontramos a graça de Deus. Trata-se da graça comum de Deus, ou seja, algo que Ele derrama sobre todos, sejam salvos ou não. Essa graça preserva o homem incrédulo vivo, sustenta-o mesmo na sua rebeldia, como forma de poupá-lo até que a graça especial chegue até ele. Enquanto isso, Deus permite, sim, que o homem rebelde desenvolva dons, habilidades, talentos; que faça descobertas que alegram o coração, pelo menos temporariamente. Mas no fim, sem Deus, é tudo vazio. O cristão pode resgatar o verdadeiro significado das coisas, mas o incrédulo faz com que elas sejam um fim em si.

- camponeses capitalistas (Génesis 4:20)

- músicos (Génesis 4:21)

- metalúrgicos (Génesis 4:22-24) (note-se que esses artesãos logo em seguida aplicaram o seu esforço artístico para a produção de armas "todo o instrumento cortante"; não é de estranhar que logo depois, Lameque provavelmente empregou essas armas para matar um homem, ao seguir o exemplo do seu avô Caim, mas ao mostrar como o veneno do pecado multiplicou os seus efeitos. Vingança, arrogância, violência, já estão no seu clímax.

Aplicação: Caim está em mim! O veneno da Serpente, o ódio, a mentira, corre pelas minhas veias espirituais!

- Cada vez que tenho ciúmes do meu irmão.

- Cada vez que há conflito entre irmãos (em casa, sobre o comando da TV, sobre o último pedaço de sobremesa, o melhor sofá, o brinquedo preferido, o uso do carro familiar).

- Cada vez que guardo mágoas no meu coração, ou penso, "Gostaria que aquela pessoa desaparecesse da Terra"; Mateus 5:21-22 "Ouvistes que foi dito aos antigos: Não matarás; e, "Quem matar estará sujeito a julgamento. Eu, porém, vos digo que todo aquele que se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento; e quem proferir um insulto a seu irmão estará sujeito a julgamento do tribunal; e quem lhe chamar: tolo, estará sujeito ao inferno de fogo".

- Cada vez que minto para me proteger a mim mesmo.

- Cada vez que simplesmente passo pela rotina de adoração, ao ofertar ao Senhor as sobras, ao fingir adoração, mas com coração rebelde e distante de Deus.


2. Capítulo 2: Abel. O Povo de Deus Sofre Perseguição dos Perversos

Génesis 4, como tantas outras partes do livro, serve como "paradigma" ou "matriz", não somente do que aconteceu, mas o que aconteceu. Nas histórias bíblicas nós nos encontramos. Depois do nascimento de Caim, talvez não muito tempo depois, nasceu Abel, irmão de Caim. Talvez nesta altura Eva e Adão já suspeitavam o que nós sabemos muito bem, que Caim não era o libertador esperado. Assim que a sua natureza pecaminosa se manifestou, imaginamos o primeiro casal a desconfiar de que teriam que esperar por outro. E nasceu Abel. Quem sabe - talvez ELE será o matador da Serpente.

Abel era um pastor de ovelhas (Génesis 4:2), uma profissão nobre, pois numa época em que os homens ainda não comiam carne (Génesis 9:3), ovelhas serviriam para pelo menos 2 propósitos:

1) Cobrir a nudez do homem, que tem precedente no próprio acto de Deus (Génesis 3:21)

2) Servir de oferta, um sacrifício pelo pecado, também conforme o modelo de Deus (Génesis 3:21).

Abel é apresentado como alguém cujo coração estava voltado para Deus e para a Sua adoração. Ele representa o povo de Deus, fiel, com coração sincero, inocente, que adora a Deus em espírito e verdade, ao resplandecer como luzeiros no mundo pervertido e corrupto (Filipenses 2:15). Mas o mundo não nos reconhece. O mundo não nos entende. De facto, o mundo nos odeia.

Abel foi um adorador verdadeiro: Adorou a Deus em espírito e em verdade. Em verdade, pois a oferta dele foi dentro dos padrões divinos, a oferta de sangue, que envolvia morte. Uma oferta das primícias. Uma oferta do melhor que tinha (da gordura). Uma oferta digna da grandeza, da majestade de Deus. Uma oferta não mesquinha, do mínimo necessário, mas generosa. Mas mais importante, foi uma oferta feita em espírito, com coração correcto diante de Deus. Deus agradou-se primeiro de Abel, e depois da sua oferta.

João 4:24 "Deus é espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade". (Em verdade = Como Ele pediu, conforme as ordens Dele na Palavra; em espírito = de coração sincero, humilde, etc).

Hebreus 11:4 "Pela fé Abel ofereceu a Deus mais excelente sacrifício do que Caim; pelo qual obteve testemunho de ser justo, tendo a aprovação de Deus quanto às suas ofertas. Por meio dela, também mesmo depois de morto, ainda fala".

Abel foi perseguido pelo próprio irmão. Caim não entendeu o espírito de Abel. Para Caim, Abel foi o preferido de Deus. A oferta de Abel fez a oferta de Caim parecer má. Jesus disse que neste mundo teremos aflições.

João 15:18-19 "Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós outros, me odiou a mim. Se vós fosseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; como, todavia, não sois do mundo, pelo contrário dele vos escolhi, por isso o mundo vos odeia".

1 João 3:13 "Irmãos, não vos maravilheis, se o mundo vos odeia".

João 16:33 "No mundo passais por aflições; mas tende bom ânimo, eu venci o mundo".

Paulo diz que Todos que viverão piedosamente em Cristo Jesus sofrerão perseguições (2 Timóteo 3:12). Os homens perversos e impostores irão de mal a pior, ao enganar e a serem enganados (2 Timóteo 3:13).

Pedro diz que não devemos estranhar os sofrimentos e aflições que sofremos no mundo, como se alguma coisa extraordinária estava a acontecer (1 Pedro 4:12). Nem sempre o justo prospera. Nem sempre tem saúde e prosperidade. De facto, o salmista olha para o perverso e reclama porque parece que ele Só prospera (Salmos 49:73). Mas nunca pode esquecer que esta não é a única vida (Salmos 49:16).

Aplicação:

1) Vamos sofrer neste mundo! Mas, Romanos 8:18 - os sofrimentos de agora não se comparam com a glória a ser revelada em nós.


3. Capítulo 3: Sete. Deus Renova a Esperança de um Remanescente Fiel

Se a história tivesse terminado aqui, realmente seria triste. Mas graças a Deus, mais uma vez uma nota de graça penetra a marcha trágica do pecado. Depois de perder os seus dois filhos num só dia, Adão novamente conhece a sua mulher, e ela gera mais um filho. Nota-se que a esperança se renova, pois Eva usa as mesmas palavras de Deus quando diz que adquiriu um "descendente" (literalmente "semente") para tomar o lugar do descendente da promessa, Abel. Foi assim que Deus descreveu a semente da mulher que iria esmagar a cabeça da Serpente. Ainda existe esperança para a raça humana, mas talvez vá demorar mais do que o casal imaginava. Que Sete representa um remanescente fiel, percebemos no último versículo do capítulo. E com a família de Sete, especificamente com o nascimento do seu filho Enos, que os homens começam a invocar o nome do Senhor. O antídoto do pecado está aí, disponível para as linhas de Sete e Caim. O nome (carácter) do Senhor renova a nossa esperança de que o sangue do próprio Deus será vertido para anular os efeitos do veneno da Serpente nas nossas veias.

Invocar o nome do Senhor no livro de Génesis significa:

1) declarar os atributos (o carácter) de Deus, em adoração. "O nome" na Bíblia representa o carácter de uma pessoa, os seus atributos, o seu carácter; (por exemplo, quando pedimos ou fazemos algo "em nome de Jesus" significa que fazemos como Jesus faria, ou seja, de forma coerente como carácter Dele. Que declara o nome do Senhor proclama que Ele é majestoso, soberano, amoroso, justo, santo, misericordioso, etc. Essa é a verdadeira adoração.

2) proclamar à linha de Caim o caminho de volta para Deus, ou seja, evangelismo. A proclamação do nome do Senhor está em contraste com a proclamação do seu próprio nome feito pelos descendentes de Caim. Eles construiram cidades para preservar o seu nome. Eles buscavam preencher o vazio nos seus corações com as suas ocupações terrestres. Mas foram de mal a pior. A linha de Sete declarava o caminho da verdade, a graça e a justiça (santidade) de Deus.

Enquanto a linhagem de Caim preocupa-se com civilização, com vida "debaixo do sol", para preencher o vazio de uma vida distante de Deus, os descendentes de Sete preocupam-se com Aquele que está acima do sol, o Criador, e a manifestação do seu carácter. Enquanto os descendentes de Caim repetem e multiplicam os pecados do seu pai (vejamos Lameque), a linha paralela preocupa-se com a declaração do caminho de volta para um Deus de graça, santidade e poder.

Aplicação: Apesar do sofrimento, apesar do facto de que a vasta maioria dos homens é anti-Deus, Ele preserva um remanescente fiel a Ele, cuja responsabilidade é proclamar a Sua glória e declarar o caminho de volta para Ele! Somos da linhagem de Sete, e enquanto temos oportunidade vamos louvar a Deus e evangelizar a linhagem de Caim.

Adoração e Evangelização são as duas grandes responsabilidades do cristão deste lado do céu. Viveremos para sempre em adoração, a proclamar o nome do Senhor. Mas evangelismo somente podemos fazer aqui, enquanto a linhagem de Caim ainda está por perto para ouvir.

Estudo sobre Génesis 4:1-15

INTRODUÇÃO

Neste capítulo, nós continuamos a ver que Génesis é sem dúvida nenhuma o livro dos inícios. Aqui nós temos o primeiro nascimento, adoração, assassinato, morte, mártir, cidade, bigamia, fundição, poesia e outras coisas mais. Este capítulo também revela como o pecado se espalhou na primeira família e então na sociedade. Verdadeiramente a depravação bem cedo floresceu e se espalhou.


1. OS DOIS FILHOS - GÉNESIS 4:1-2

Aqui nós temos o relato inspirado do nascimento das primeiras crianças no mundo. O primeiro recebeu o nome de Caim, que significa "adquirido" ou "obtido". Alguns acreditam que Eva pensou que ele seria o Messias prometido em Génesis 3:15. Entretanto, parece que ela cedo aprendeu o triste facto de que este mundo é um lugar de tristeza e vazio. O segundo filho chamou-se Abel, que quer dizer "vaidade" ou "vapor". Eva deve ter-se tornado cada vez mais consciente da destruição que o pecado produziu. Entretanto, o nome de Caim parece mostrar que ela acreditava nas promessas de Deus.


2. AS DUAS OFERTAS - GÉNESIS 4:3-5

Não fica claro que Adão ensinou aos seus filhos o tempo, e a maneira correcta de adorar a Deus? Estas ofertas provavelmente foram levadas ao local onde os querubins estavam [Génesis 2:24]. Este parece ser o lugar aonde Deus se encontrava com eles. É triste vermos que somente um dos sacrifícios pode ser aceite por Deus. De maneira tangível, Deus mostrou a sua aceitação da oferta de Abel [Hebreus 11:4]. Ao relembrar várias passagens do Velho Testamento, é muito provável que esta oferta tenha sido de forma sobrenatural consumida pelo fogo. Vejamos como estas ofertas eram diferentes:

A. A oferta de Caim foi rejeitada porque ele mesmo não era justo diante de Deus. A Bíblia toda ensina que nada do que nós oferecemos a Deus é aceite se não estivermos correctos diante Dele [Génesis 4:5; Hebreus 11:6; Isaías 1:10-15].

B. A oferta de Caim era uma oferta de "Acção de Graças", e denunciava um espírito de orgulho e justiça própria. Porém Abel ao trazer um cordeiro, estava a confessar a sua necessidade de uma "oferta pelo pecado". A sua oferta apontava para Cristo como ao ser o Cordeiro de Deus que morreu pelos pecadores. Isto demonstrou a sua fé no Salvador que viria [Hebreus 11:4]. A diferença entre Caim e Abel pode ser vista em todas as épocas. Os Publicanos e Fariseus nos dão um retrato disto no Novo Testamento [Lucas 18:9-14]. O "caminho de Caim" [Judas 11] é o caminho da salvação através das obras e da religião.


3. CAIM É AVISADO - GÉNESIS 4:6-7.

Nada irrita mais um homem do que ser repreendido pela sua atitude orgulhosa. Deus alertou a Caim, porém, ele não deu ouvidos. Eva foi induzida a pecar e agora Caim não podia lhe resistir. As palavras de Deus em Génesis 4:7 têm dado origem a muitos debates. Isto deve-se ao facto da palavra "pecado" ser utilizada em algumas passagens do Velho Testamento para se referir a "oferta pelo pecado". Este versículo é interpretado de duas maneiras:

A. "Se você se arrepender, você será aceite. Se você se recusar a arrepender-se, o pecado como uma besta feroz, estará à espreita para atacá-lo. O pecado irá conquistá-lo e dominá-lo, se você não crucificar a carne e ter domínio sobre ela". Se esta for a interpretação correcta, então ela é ilustrada na vida de Caim. Ele tornou-se um escravo do pecado. O ódio o dominou e o levou a ser um assassino. O pecado arruinou a sua vida.

B. "Se você tivesse feito certo, Eu teria aceitado você. Agora mesmo há uma oferta pelo pecado que você pode usar para fazer expiação pelos seus pecados. Arrependa-se e você manterá o seu lugar como primogénito e cabeça da família". Devemos perceber que nesta segunda interpretação o domínio que Caim exerceria seria sobre Abel e não sobre o pecado. Apesar de as duas interpretações estarem de acordo com a doutrina bíblica, nós somos mais inclinados a aceitar a primeira. Entretanto, os mais conceituados estudantes da Bíblia não chegam a um veredicto comum.


4. O PRIMEIRO HOMICÍDIO - GÉNESIS 4:8.

O primeiro homem a morrer sobre a terra foi um filho de Deus, que foi assassinado. Na verdade o ódio de Satanás pelos filhos de Deus é antigo [Génesis 3:15; Gálatas 4:29]. Caim matou Abel porque ele era justo e conhecia o evangelho [1 João 3:11-13]. O que nos traz conforto é saber que o primeiro homem a morrer, foi para o céu.


5. CAIM É JULGADO - GÉNESIS 4:9-10.

O Senhor questionou Caim para que ele tivesse oportunidade de se arrepender do seu pecado. Infelizmente o assassino então mentiu. Quando nós seguimos o diabo, agimos da mesma forma que ele [João 8:44]. Um pecado leva ao outro. Com que frequência o mundo responde como Caim "sou eu guardador do meu irmão?" Eles nem parecem calcular que a resposta seria sim [Mateus 22:39]. Deus disse que a voz do sangue de Abel clamava desde a terra. É o clamor de vingança, como também clamam o sangue de todos os mártires e vítimas inocentes da ira dos homens. Damos graças a Deus que o sangue de Cristo fala de coisas melhores [Hebreus 12:24].


6. CAIM É PUNIDO - GÉNESIS 4:11-14.

A punição de Caim era em dois aspectos:

A. A Terra de maneira nenhuma iria produzir um grão sequer para ele. Este castigo era pelo pecado de derramar o sangue do homem como se fosse uma coisa comum. Devemos lembrar que pela oferta de Caim nós podemos concluir que ele era um lavrador.

B. Ele seria um errante sobre a Terra. Isto era para indicar que ele estaria a fugir de Deus [Génesis 4:14]. Este castigo parece ter causado muita tristeza em Caim [Génesis 4:13]. É triste notar que ele estava pesaroso por causa do castigo e não pela culpa do seu pecado.


7. A RESTRIÇÃO DE DEUS - GÉNESIS 4:15.

A consciência de Caim dizia-lhe que um assassino merece a morte. Os seus temores parecem indicar que ele sentia que os homens automaticamente saberiam disso e iriam procurar a matá-lo. Por alguma razão Deus não permitiria que Caim fosse executado. O governo civil pode tirar a vida porque Deus o permitiu [Romanos 13:1-5]. A pena de morte foi instituída após o dilúvio [Génesis 9:5-6]. Até então execução da vingança eram uma prerrogativa de Deus. (As palavras de Génesis 4:15 não nos ensinam que o homem que se vinga sem autoridade é pior do que aquele que cometeu o erro? Aqueles que de forma errada se vingam, estão a usurpar o trono de Deus [Romanos 12:19]).

Caim Matou Abel

A história de como Caim matou Abel é uma das mais enigmáticas de toda a Bíblia. Caim e Abel nasceram após a queda e expulsão de Adão e Eva do Jardim do Éden. Estavam portanto bem no início da história da humanidade. Eles possuíam cerca de 100 a 130 anos de idade, quando Caim matou Abel. No livro de Génesis 4:1-18, não é explicado por que inicia a prática do sacrifício com o objectivo de Adoração. Muitos estudiosos afirmam que a oferta de Caim não foi aceite porque não envolvia derramamento de sangue; mas em Génesis 4 não dá nenhuma indicação de que Caim e Abel achegaram-se a Deus naquele momento para pedir perdão pelos seus pecados.

As ofertas de Caim e Abel eram actos voluntários de adoração. Pelo sistema antigo de sacrifícios de Israel, Deus abençoava tanto as ofertas de cereais como o sacrifício de animais (Levítico 6:14-23).

"E aconteceu ao cabo de dias que Caim trouxe do fruto da terra uma oferta ao SENHOR" Génesis 4:3.

Entretanto, a oferta de Caim foi inferior à de Abel porque a motivação de Caim não era boa.

A Oferta de Caim, Estética e Beleza num Lindo Arranjo Vegetal.

Caim trouxe da Terra, do seu trabalho, do seu suor, do seu esforço, da sua cultura, do seu arado, da sua produção, da sua tecnologia, da sua capacidade de intervir nos processos da natureza, ao produzir uma cultura própria, fruto de um trabalho pessoal, produto de uma concepção mental.

Ele trouxe uma oferta do melhor que possuía. O melhor que o seu esforço produziu. O melhor que a sua inteligência pôde arquitectar, aquilo que a sua arte pôde alcançar, o resultado do seu esforço. Abel porém trouxe das primícias do seu rebanho. Agradou-se o Senhor da oferta de Abel, mas da oferta de Caim não se agradou o Senhor. Não há uma explicação clara para tal facto.

"E Abel também trouxe dos primogénitos das suas ovelhas, e da sua gordura; e atentou o SENHOR para Abel e para a sua oferta" Génesis 4:4.

"Mas para Caim e para a sua oferta não atentou. E irou-se Caim fortemente, e descaiu-lhe o semblante" Génesis 4:5.

A actividade de cuidar de rebanhos é um tanto trabalhosa, porém ao levar essa actividade para o tempo em que se encontravam Caim e Abel, percebemos que a função de pastor de ovelhas, da época, era uma actividade de vigiar e observar as ovelhas. Voltava-se para guiá-las aos locais onde havia água e pastos verdes. Oferecia protecção dos animais ferozes e não deixava que os instintos dos rebanhos, se voltassem contra eles próprios.

A actividade de pastor, no tempo de Caim e Abel (nos primórdios do mundo), não exigia muita qualificação para ser feita. Ser pastor era antes de mais nada, oferecer, para as ovelhas, daquilo que a própria natureza já dispunha, sem a necessidade de uma árdua intervenção humana, que demandava muito esforço.

Caim Mata Abel com Aproximadamente 130 Anos.

A oferta de Caim constitui-se então do resultado de muito esforço humano. Era um trabalho muito dispendioso a agricultura primitiva. Muito arado, muito suor, muita inquietação, bolhas e calos nas mãos. E Caim ainda tinha que aprender, imaginar, desenvolver e aplicar o seu conhecimento no plantio e cultivo da sua produção agrícola. Exigia muita intervenção de Caim nos processos do seu trabalho. Caim colhe, com confiança, da sua produção, fruto do seu muito esforço, e traz uma oferta para Deus. Uma oferta que mostrava a sua capacidade de intervir na natureza e nos processos de causa e efeito.

A oferta de Caim trazia em si o valor da estética, a beleza de um arranjo vegetal lindo! Um altar vegetal, com muitas frutas e legumes multicoloridos. O encantamento visual deste tipo de altar é algo espectacular! Sem falar no cheiro suave destes produtos frescos. Os melhores da sua cultura.

A oferta de Caim é a oferta do esforço, da confiança no seu trabalho, numa tentativa de seduzir a atenção divina, pelo uso da estética visual. Abel, entretanto traz para Deus uma oferta das primícias do seu rebanho. Uma oferta de sangue, ao oferecer algo que a própria natureza já quase que por si só havia criado. Uma oferta que mostrava a sua incapacidade.

A Oferta de Abel traz o contraste do sangue e da cena horrível de um animal degolado e esse sangue a escorrer e a lavar todo o altar. A oferta de Abel faz uma afirmação implícita de que havia a necessidade de um substituto, que fosse vicarizado e pagasse pelo pecado do ser humano. Pois sem isso, não se podia agradar a Deus e nem haver uma auto-justificação.

A oferta de Abel aponta para a fé, o descanso e a confiança em Deus. A oferta de Caim representa as religiões da Terra, que buscam a justificação por meio de um esforço meritório. Essas religiões buscam uma obra, um sacrifício, um sofrimento auto-imposto para a sua própria justificação. Já Abel ofereceu um sacrifício que carregava a semente do cordeiro que foi imolado antes da fundação do mundo. Este cordeiro foi materializado na crucificação de Jesus.

"Pela fé Abel ofereceu a Deus maior sacrifício do que Caim, pelo qual alcançou testemunho de que era justo, dando Deus testemunho dos seus dons, e por ela, depois de morto, ainda fala" Hebreus 11:4.

Aquele sacrifício que não exigiu tanto esforço humano, já mostrava que a justificação só se alcança pela fé. Somente pela fé se pode agradar a Deus. Isso não vem de nós, como Caim pensou, mas é dom de Deus. Para o Deus de Abel não há estética, não há obras de justificação, há somente sangue. Pois o sangue de um inocente foi necessário para tomar o nosso lugar, afim de trazer a pacificação de Deus com a humanidade.

Assim, Deus está pacificado com o Mundo. Hoje é possível agradá-lo, porém ao trazermos a nossa oferta de louvor, devemos nos lembrar que não é pelo nosso merecimento, mas é pelo sangue e somente pelo sangue de Jesus que podemos nos chegar até Ele.

Significado de Génesis 4

Génesis 4

Génesis 4:1 - E conheceu Adão a Eva, sua mulher, e ela concebeu. O verbo conhecer (hebraico yada) aqui é usado eufemisticamente como sinónimo de ter relações sexuais. Normalmente, descreve uma relação íntima que envolve ardor, paixão, posse e reciprocidade. Aqui, a relação sexual de Adão e Eva resultou na concepção de um filho. Mas, ao que tudo indica, esta não teria sido a primeira união sexual do casal. O primeiro filho de Adão e Eva foi Caim [hebraico qayin, que deu origem ao termo queneus, ferreiros], cujo nome é relacionado ao significado da palavra artesão ou algo produzido, mas também soa como a tradução da palavra hebraica que significa adquirido, possuído. [Talvez, por isto, Eva tenha declarado: Alcancei do SENHOR um varão. Algumas vezes, um nome é uma alusão clara a algum facto ou situação (como, por exemplo, Ismael [hebraico Yishmae'l, Deus ouvirá] em Génesis 16:11); outras vezes é baseado num trocadilho com uma palavra que é similar ao nome, ou contém uma ideia mais abstrata.

Génesis 4:2 - A motivação do nome Abel (hebraico Hebel, sopro, vapor) é incerta. Talvez, ele tenha recebido esse nome apenas depois que foi morto por Caim (Génesis 4:8); após os seus pais, com tristeza, constatarem a brevidade da vida do segundo filho, cuja vida acabara tão rapidamente como um sopro. Abel era pastor de ovelhas. Caim, um agricultor. As duas ocupações eram igualmente importantes. Elas reflectem meramente uma diferença de interesses entre os dois irmãos, não o carácter ou a importância deles. Contudo, a história de Caim e Abel abre o tema da competição entre irmãos (ver também Esaú e Jacó, em Génesis 25:26).

Génesis 4:3-4 - Em Génesis, não é explicado por que começa a prática do sacrifício com o objectivo de adoração a Deus. Talvez os primeiros leitores deste texto entendessem bem essa questão, pois haviam sido instruídos por Deus por intermédio de Moisés. Mas alguns estudiosos afirmam que a oferta de Caim não foi bem aceite quanto a de Abel porque não envolvia o derramamento de sangue; algo que Deus exigia para o perdão dos pecados (Hebreus 9:22). Mas, nenhuma palavra em Génesis 4 indica que Caim e Abel achegaram-se a Deus naquele momento para pedir o perdão por pecados cometidos. As ofertas deles foram voluntários actos de adoração. Além disso, pelo antigo sistema de sacrifícios de Israel, Deus abençoava tanto as ofertas de cereais como o sacrifício de animais (Levítico 6:14-23). Por isso, os agricultores apresentavam uma porção da sua produção, e os pastores, amostras do seu rebanho. Contudo, talvez o sacrifício de Caim tenha sido inferior porque a motivação deste não era boa, e a de Abel sim. [O facto é que, por algum motivo que não é aludido no texto, Deus atentou para a oferta de Abel, e não para a de Caim, e isto o deixou irado, ao levá-lo a matar o irmão por inveja].

Génesis 4:4 - E atentou o Senhor para Abel e para a sua oferta. O sacrifício de Abel foi o melhor que ele tinha a oferecer, dos primogénitos das suas ovelhas e da sua gordura. Não há palavras similares para descrever o sacrifício de Caim. Isso indica que Caim ofereceu ao Senhor uma parte qualquer da sua produção, enquanto Abel apresentou a melhor parte das primícias. Consequentemente, Deus atentou [hebraico shaah, atentar, olhar, agradar-se] primeiro para o ofertante, e depois para o objecto do sacrifício (Salmos 40:6-8). Logo, a oferta de Abel era qualitativamente melhor do que a de Caim, por causa da fé de Abel no Senhor (Hebreus 11:4).

Génesis 4:5 - Mas para Caim e para a sua oferta não atentou. E irou-se Caim fortemente, e descaiu-lhe o seu semblante. Havia alguma coisa deficiente na atitude de Caim, a qual se reflectiu na sua oferta. Ele, em lugar de sentir-se quebrantado e grato ao Senhor, ficou muito furioso e tomado pelo ciúme (Génesis 4:8).

Génesis 4:6-7 - As palavras graciosas do Senhor eram para que Caim pudesse fazer a coisa certa! Ele não precisava ficar com ódio. O pecado estava a bater à porta do coração de Caim, à espreita para poder entrar e atacá-lo como um leão. Mas ele devia resistir ao mal; então seria bem aceite também.

Génesis 4:8 - Caim cometeu um assassinato premeditado. Foi uma acção rápida, bem planeada e sem precedentes. Jesus falou deste acontecimento horrível como um facto histórico e vil, semelhante ao que foi cometido contra outros profetas que Deus enviou à nação de Israel e ao que seria cometido contra Ele próprio (Mateus 23:35).

Génesis 4:9 - Onde está Abel, teu irmão? Estas palavras do Senhor enfatizam o horror do assassinato de um familiar. Todavia, todo o assassinato é um crime contra a família, já que todos estamos relacionados a Adão, o nosso progenitor.

Génesis 4:10 - A voz do sangue do teu irmão clama a mim desde a terra. O sangue de Abel estava a clamar a Deus por vingança até que o sangue daquele que é mais inocente que Abel fosse derramado para o perdão da humanidade (Hebreus 12:24). Pela sua morte [cruel pelas mãos do irmão], Abel tipifica o Salvador, Jesus.

Génesis 4:11-12 - Caim é o terceiro a ser amaldiçoado por Deus; a primeira foi a serpente (Génesis 3:14) e a segunda, a Terra (Génesis 3:17). [Note-se que a punição dele está associada à maldição da Terra, a qual, antes, cooperava com o trabalho dele, ao dar o seu fruto e a trazer-lhe alegria, mas, doravante, apenas lhe lembraria o seu pecado, ao fazer com que ele se sentisse fugitivo e errante].

Génesis 4:13 - E tamanho o meu castigo, que já não posso suportá-lo [ara]. Aqui o termo traduzido como castigo [hebraico 'avon, punição] fala da consequência natural da perversidade: a culpa. Geralmente a punição ocorre em retribuição ao pecado (Êxodo 20:5).

Génesis 4:14 - Caim expressou pesar somente pela punição que recebeu, e não pelo crime terrível que cometeu. Não há nenhuma nota de arrependimento a respeito da sua acção. Caim disse: Eis que hoje me lanças da face da terra, e da tua face me esconderei; e serei fugitivo e errante na Terra, e será que todo aquele que me achar me matará. Muitas pessoas especulam que todo aquele a que Caim se refere seriam os seus irmãos e as suas irmãs já nascidos, mas não mencionados, ou aqueles que ainda estavam por nascer. Esta ideia é baseada em Génesis 5:4, onde é dito que Adão gerou filhos e filhas. Alguns, sem nenhuma base bíblica, especulam que Deus teria criado outras pessoas fora do jardim do Éden, mas não há nas Escrituras nenhuma indicação disto. Logo, faz sentido concluir que Caim tinha medo dos seus irmãos e irmãs.

Génesis 4:15 - É notável observar a misericórdia que o Senhor teve pela vida de Caim. Apesar deste ter assassinado o próprio irmão, o Senhor não o matou nem permitiu que o fizessem. O Senhor o protegeu, ao colocar nele uma marca, a fim de que não fosse morto pelos outros. Mesmo em Sua ira, Deus demonstra a misericórdia. [Provavelmente, o Senhor queria dar tempo a Caim para que este se conscientizasse do seu pecado e se arrependesse].

Génesis 4:16 - A terra de Node remete ao termo nómada (Génesis 4:12-14). A questão aqui é mais teológica do que geográfica. Estar à parte da presença do Senhor é tornar-se um nómada, um errante, que anda sem rumo na Terra.

Génesis 4:17 - Caim provavelmente encontrou uma esposa entre as suas irmãs (Génesis 4:14). O nome Enoque [hebraico Chanowk] significa dedicado. O filho de Caim recebeu o mesmo nome do descendente de Sete que andava com Deus (Génesis 5:21-24). Caim fundou uma cidade e deu a ela o nome do seu filho. A população rapidamente aumentou.

Génesis 4:18 - Aqui, seis gerações, de Caim a Lameque, são mencionadas. Este versículo indica uma rápida expansão populacional. Note-se que na lista de nomes de cada um desses filhos de Caim não há o nome das respectivas esposas deles. Isto porque, no antigo Oriente, onde a Bíblia foi escrita, os descendentes sempre considerados eram os filhos [raramente as filhas ou esposas são mencionadas]. Por isso é comum vermos nas genealogias na Bíblia o nome dos pais, e não das mães.

Génesis 4:19-21 - Aqui, é contada a história de Lameque, o mais conhecido dos descendentes de Caim, e não do Lameque filho de Matusalém (Génesis 5:28-31). O Lameque filho de Caim representa a habilidade e a força, bem como a arrogância e o sentimento de vingança. Ele tinha duas esposas. Isto sugere um atentado deliberado por parte de Lameque de subverter o padrão de união estabelecido por Deus, que prevê o casamento entre um homem e uma mulher (Génesis 2:24; ler as palavras de Jesus a respeito em Mateus 19:4-6). O nome de uma esposa era Ada, o da outra, Zilá. Raramente nesta listagem os nomes das esposas são mencionados, como aqui.

Génesis 4:20-21 - Jabal é citado como o pai daqueles que moram em tendas e criam rebanhos. Jubal, seu irmão, é descrito como o homem que foi o pai de todos que tocam harpa e flauta.

Génesis 4:22 - Tubalcaim, mestre de toda a obra de cobre e de ferro. Alguns alegam que o ferro ainda não era conhecido no tempo de Tubalcaim; logo, este versículo seria apenas uma alusão a Tubalcaim como o homem que ensinou a outros a arte de manipular os metais. Os futuros ferreiros veriam Tubalcaim como o "pai" dessa arte. Naamá [hebraico Na'amah, encanto] era a sua irmã. Ainda mais rara do que a menção dos nomes das mães é a menção dos nomes das filhas e irmãs.

Génesis 4:23-24 - Eu matei um varão, por me ferir, e um jovem, por me pisar. Porque sete vezes Caim será vingado; mas Lameque, setenta vezes sete. Aqui se vê uma declaração rimada, presunçosa e ofensiva, que traduz o violento espírito de Lameque, que confessa ter matado um homem que o feriu e um jovem apenas por tê-lo pisado. A vaidade de Lameque indica que ele seguiu o pior padrão do seu ancestral Caim. Na sua perversa ostentação de valentia, Lameque insulta Deus ao afirmar que se Caim seria vingado sete vezes, ele mesmo se vingaria setenta vezes sete, caso alguém ousasse atacá-lo. Este é outro exemplo (apesar da conotação perversa) do uso dos números para impressionar (Números 1:46).

Génesis 4:25 - E tornou Adão a conhecer a sua mulher. Esta expressão, conhecer a sua mulher, remete às palavras de abertura desta secção (Génesis 4:1) e traz a sua conclusão. Após o longo e triste comentário sobre Caim e os seus descendentes, retornamos a Adão e Eva e à sua nova prole. Com a morte de Abel (Génesis 4:8) e a expulsão de Caim (Génesis 4:11-12), Adão e Eva não tinham mais filhos para perpetuar a linhagem que cumpriria a promessa do Redentor; eis a importância do nascimento de Sete [hebraico Sheth], cujo nome está relacionado ao verbo hebraico que significa ocupar o lugar ou compensar. Ele foi apontado como aquele que assumiu o lugar do justo Abel nos planos de Deus.

Génesis 4:26 - O nascimento de Enos [hebraico 'Enowsh], filho de Sete, significava que a linhagem deste continuaria, bem como que a promessa do Senhor (Génesis 3:15) não seria esquecida. Então, começou-se a invocar o nome do Senhor. Essas palavras só podem significar que apenas agora as pessoas começaram a orar a Deus. Assim, o verbo invocar [hebraico qara'] significa clamar, fazer proclamação em voz alta. Este é o início das pregações e dos testemunhos em nome do Senhor (ver Génesis 12:8).

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