Génesis Capítulo 5

Ao Enfrentar as Genealogias (Génesis 5:1-32)

Introdução

As genealogias nunca foram os textos mais lidos da Palavra de Deus. Ray Stedman conta a história de um velho ministro escocês que ia ler o primeiro capítulo do evangelho de Mateus para a sua igreja:

Ele começou: "Abraão gerou a Isaque, e Isaque gerou a Jacó, e Jacó gerou a Judá". O velho senhor deu uma olhada no texto, viu a lista que se seguia e disse: "e eles continuaram a gerar um ao outro página abaixo, até a metade da página seguinte".

Se formos honestos, é isso o que a maioria de nós faz com as genealogias da Bíblia - nós passamos por cima delas. Leupold, num dos clássicos comentários de Génesis, dá esta palavra de alerta aos pregadores: "Nem todos nos arriscamos a usar este capítulo para pregar".

E podemos acreditar, nem todos mesmo. No entanto, existe um versículo da Escritura que não nos deixará passar por Génesis 5 sem um estudo sério dessa genealogia: "Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correcção e para a educação na justiça" (2 Timóteo 3:16).

Ao ser assim, precisamos lidar com este capítulo de Génesis de forma a discernir o seu proveito e benefício para nós.


Ao Entender as Genealogias

O quinto capítulo de Génesis é apenas uma das muitas genealogias contidas na Escritura. Aprender com este capítulo irá nos encorajar e nos ensinar a estudar as outras inúmeras genealogias da Bíblia. De modo inverso, as outras genealogias lançarão uma luz considerável sobre a nossa abordagem deste texto em particular. Portanto, vamos prestar atenção ao propósito geral das genealogias antes de voltarmos a este texto.

As genealogias dos capítulos 5 e 11 de Génesis não são, de forma alguma, as únicas dos tempos antigos. Os egípcios tinham listas dos seus reis, assim como os sumérios. Os hititas mantinham catálogos das oferendas reais, sem dúvida de valor histórico e cronológico. As antigas genealogias do Oriente Próximo são muito elucidativas para determinar a correcta interpretação dos registos bíblicos.

Em primeiro lugar, aprendemos que o propósito das genealogias não era o de serem usadas como cronologia. À primeira vista, quem lê Génesis capítulo cinco pensa que é preciso apenas somar os números ali contidos para estabelecer a idade da civilização na Terra. Ussher, por exemplo, chegou à data de 4.004 a.C. para os acontecimentos do capítulo um de Génesis.

A indicação de nomes individuais não implica, necessariamente, numa sequência contínua. Muitas vezes, alguns nomes eram omitidos e os registos genealógicos eram selectivos. A expressão "A gerou B" nem sempre implica em descendência directa. Mateus 1:8 diz que "Jorão gerou Uzias", no Antigo Testamento (2 Reis 8:25; 11:2; 14:1, 21) vemos que Jorão foi pai de Acazias, pai de Joás, pai de Amazias, pai de Uzias. Portanto, "gerou" pode significar "gerou uma linhagem que culminou em". Como Kitchen afirma, "termos como 'filho' e 'pai' podem significar não só 'filho (neto)' e 'pai (avô)', mas também 'descendente' ou 'ancestral', respectivamente".

A disposição das genealogias num padrão claro e organizado também sugere algo diferente de um indicador cronológico. A genealogia de Cristo em Mateus, por exemplo (Mateus 1:1-17), está disposta em três séries de 14 gerações cada. Essa genealogia é conhecida como selectiva. Nas genealogias do antigo Oriente Próximo, em geral, os números eram de importância secundária. O propósito principal era estabelecer a identidade familiar de alguém, a sua linhagem. Em parte alguma de Génesis 5, ou da Bíblia, ou de qualquer outro lugar, os números foram indicados para estabelecer algum tipo de cronologia. Às vezes, os números de uma narrativa diferem dos números de outra. Embora haja muitas explicações para isto, uma delas é que esses números foram fornecidos apenas como um indicador. Números exactos não servem ao propósito da genealogia. Ainda que não ousemos dizer que esses números não são literais, estamos simplesmente a apontar a forma como eles eram usados no antigo Oriente Próximo. Vamos, então, analisar cuidadosamente as palavras do grande erudito, Dr. B. B. Warfield, quando diz:

Essas genealogias devem ser consideradas dignas de valor somente para o propósito ao qual foram registadas; elas não podem ser adaptadas para uso em outros fins para os quais não foram destinadas, e para os quais não são adequadas. Em especial, fica claro que o objectivo genealógico dessas genealogias não requeria um registo completo de todas as gerações pelas quais passava o descendente das pessoas a quem foram atribuídas; só uma indicação adequada da linhagem particular de onde procedia o descendente em questão. Portanto, um exame melhor das genealogias da Escritura mostra que elas são aplicadas livremente para toda a sorte de propósitos e não se pode afirmar com segurança que contenham um registo completo de todas as séries de gerações, embora quase sempre seja óbvio que muitas delas foram omitidas. Não há uma razão inerente à natureza das genealogias bíblicas pela qual uma genealogia de dez ligações registadas, tais como as dos capítulos 5 e 11 de Génesis, não possa representar um descendente real de cem, mil ou dez mil ligações. O ponto estabelecido pelo registo não é que estas sejam todas as ligações directas ocorridas entre o início e o fim dos nomes, mas que é uma linhagem onde se pode traçar a ascendência ou descendência de uma pessoa.


O Significado de Génesis 5

Se não podemos descobrir a idade da Terra pela genealogia do capítulo cinco de Génesis, o que vamos ganhar com o seu estudo? Quanto mais pensamos nesta passagem, mais fica claro que ela precisa ser interpretada à luz do seu contexto. Uma parte significativa desse contexto é a genealogia de Caim no capítulo quatro. Portanto, o significado e a aplicação da genealogia do capítulo cinco podem ser obtidos por comparação e contraposição com o capítulo quatro. Geralmente se diz que no capítulo quatro Moisés nos dá a genealogia de Caim, enquanto no capítulo cinco ele descreve a linhagem piedosa de Sete. Em certo sentido, isso é verdade. O capítulo quatro com certeza descreve uma descendência ímpia, enquanto o capítulo cinco regista a história da linhagem de onde viria o Salvador. Tecnicamente, no entanto, o capítulo cinco não é o registo da linhagem de Sete, mas o de Adão.

"Este é o livro da genealogia de Adão. No dia em que Deus criou o homem, à semelhança de Deus o fez; homem e mulher os criou, e os abençoou, e lhes chamou pelo nome de Adão, no dia em que foram criados. Viveu Adão cento e trinta anos, e gerou um filho à sua semelhança, conforme a sua imagem, e lhe chamou Sete" (Génesis 5:1-3).

Por que Moisés nos diria aquilo que já sabemos? Observe-se que os versículos não estão ligados à genealogia do capítulo quatro, mas à do capítulo cinco. A genealogia de Caim termina num beco sem saída. Ela começa com o ímpio Caim, termina com o perverso Lameque e é levada pela "enxurrada" do dilúvio. Moisés começa o capítulo cinco com a terminologia dos capítulos um e dois (por exemplo, 'criou', 'à semelhança de Deus', 'homem e mulher', 'os abençoou') para indicar ao leitor que os propósitos e planos de Deus para o homem, iniciados nos primeiros capítulos, devem ser cumpridos por meio da descendência de Adão, mas não pela linhagem de Caim, e sim pela de Sete. O capítulo cinco inteiro é uma descrição da linhagem estreita pela qual virá o Messias.

O contraste espiritual entre as duas linhagens é óbvio. E pode ser facilmente ilustrado pelos dois "Lameques" dos capítulos quatro e cinco. O Lameque (filho de Metusael, Génesis 4:18) da linhagem de Caim foi quem deu início à poligamia (Génesis 4:19). Pior ainda, ele foi um assassino que se gabou do seu crime (Génesis 4:23) e fez pouco das palavras de Deus ditas a Caim (Génesis 4:24).

O Lameque do capítulo cinco (filho de Matusalém e pai de Noé) foi um homem piedoso. O nome do seu filho revela a sua compreensão da queda do homem e da maldição de Deus sobre o solo (Génesis 5:29). Isso também indica que ele acreditava que Deus libertaria o homem da maldição por meio do descendente de Eva. Cremos que Lameque entendeu ainda que isso aconteceria especificamente por intermédio do filho dado por Deus a ele. Na história dos descendentes de Caim nenhum número é empregado, enquanto na linhagem de Sete há um padrão numérico definido. Os números no capítulo cinco especificamente fornecem:

1) a idade do indivíduo quando do nascimento do filho mencionado;

2) os anos vividos após o nascimento desse filho;

3) a idade do homem na época da sua morte.

Basicamente, a vida da pessoa cai em uma das duas partes, A. F. e D. F. antes ou depois do nascimento do filho. Esta não é uma divisão sem importância. A duração da vida dos homens no capítulo cinco é extraordinariamente longa, mas qualquer tentativa de explicar esse facto de forma alguma que não seja ao entender esses números literalmente é simplesmente inútil. Sem dúvida, as condições eram muito diferentes antes do dilúvio. Moisés, com certeza, pretendia nos impressionar com a longevidade daqueles homens. Esta é, obviamente, uma das razões pelas quais a idade deles foi incluída de forma tão evidente. Uma vida longa tornaria mais fácil a povoação da Terra. Algumas pessoas depois de 17 anos de casados tiveram seis filhos. Imaginemos então o que poderia ser feito em 900 anos!

Além do mais, Moisés, com isso, estaria a mostrar que o homem originalmente foi planeado para viver muitos anos, mesmo depois da queda. Certamente a promessa de um reino milenar, onde o homem viveria até uma idade bem avançada (Isaías 65:20), é apoiada por este capítulo. A longevidade não era uma coisa nova, era simplesmente algo recuperado.

O principal contraste entre as linhagens de Caim e Sete é a ênfase de cada uma delas. À linhagem de Caim é creditado o que se pode chamar de "progresso secular" e grandes realizações. Caim edificou a primeira cidade (Génesis 4:17). As contribuições tecnológicas e culturais vieram dos seus descendentes. Trabalhadores em metal, pecuários e músicos vieram da sua linhagem.

Agora, o que é enfatizado na linhagem de Sete? Nenhuma menção é feita a grandes contribuições ou realizações. Duas coisas, no entanto, distinguem os homens do capítulo cinco. Em primeiro lugar, eles foram homens de fé (Enoque, Génesis 5:18, 21-24; Lameque, Génesis 5:28-31). Esses homens olharam para o passado e compreenderam o facto de que o pecado foi a raiz dos seus problemas e pesares. E olharam para o futuro na expectativa da redenção que Deus ia providenciar por meio da sua descendência.

Isso leva-nos à segunda contribuição - eles geraram descendentes piedosos por meio dos quais os planos e propósitos divinos teriam continuidade. Ora, não está escrito que cada um dos seus filhos fosse temente a Deus. Contudo, sabemos que eles foram e que por meio deles e dos seus filhos a linhagem continuou até culminar em Noé. Embora o resto da humanidade devesse ser destruído no dilúvio, em Noé, a raça humana (mais ainda, o descendente de Eva) seria preservada. A esperança dos homens, portanto, estava na preservação de uma descendência temente a Deus. Mas que lição isso seria para os israelitas! Quando chegassem à terra de Canaã, eles encontrariam um povo completamente diferente dos egípcios. Os egípcios desprezavam-nos e não davam a mínima para casamentos mistos; os cananeus, no entanto, tentariam casar-se com eles (Génesis 46:34; Deuteronómio 7:1; Números 25:1). Casar-se com os cananeus seria abandonar o Deus de Israel. Misturar-se com eles significava poluir a linhagem temente a Deus por meio da qual viria o Messias. Deus tinha prometido abençoar a fé e obediência dos israelitas. Ele lhes daria chuva, boa colheita e gado (Deuteronómio 28). No entanto, com casamentos mistos, Israel talvez depositasse a sua confiança não no Deus vivo, mas na tecnologia dos cananeus. Cavalos e carruagens deviam ser os últimos avanços tecnológicos na guerra, mas Deus tinha proibido Israel de acumular esse tipo de armamento. Eles deviam confiar somente Nele (Êxodo 15:4; Deuteronómio 17:14; Josué 11:6). Fazer aliança com as nações pagãs podia ser a maneira do mundo, mas não a de Deus (2 Reis 18, 19). Talvez fiquemos surpresos com tanta ênfase na morte na genealogia do capítulo cinco, já que isso não é mencionado no capítulo quatro. Não teria sido mais apropriado ressaltar a morte em conexão com a linhagem ímpia de Caim?

A primeira coisa que precisamos entender é o significado da morte no contexto do livro de Génesis. Deus tinha dito a Adão que certamente eles morreriam no dia em que comessem do fruto proibido (Génesis 2:17). Satanás descaradamente negou isso e garantiu a Eva que não seria assim (Génesis 3:4). O capítulo cinco é um amargo lembrete de que o salário do pecado é a morte e que Deus cumpre a Sua Palavra, para julgar e para salvar. Mas por que não ressaltar a relação entre a pecaminosidade e a morte? Por que não dar ênfase à morte no capítulo quatro? Vamos sugerir uma explicação. No capítulo quatro, a morte não parecia muito popular. Cremos que Caim encontrou consolo no facto de ter gerado um filho e de ter dado o nome dele à cidade que edificou. Além disso, a sua descendência foi responsável por grandes contribuições tecnológicas e culturais. Esses "monumentos" de Caim talvez tenham lhe dado algum tipo de conforto. No entanto, a triste realidade era completamente diferente. Como está escrito no livro de Provérbios: "A memória do justo é abençoada, mas o nome dos perversos cai em podridão" (Provérbios 10:7).

A maior tragédia não foi a morte dos homens do capítulo quatro, pois ela também ocorreu no capítulo cinco. A tragédia foi a descendência de Caim não ter sobrevivido ao julgamento de Deus. Contudo, Noé, o descendente de Sete, sobreviveu. Todos os homens morrerão um dia, mas alguns serão levados ao tormento eterno enquanto que o povo da fé passará a eternidade na presença de Deus (João 5:28-29; Apocalipse 20). A aparência externa mostra o que os filhos deste mundo "têm feito", mas a realidade final é totalmente diferente.

A morte chegou à descendência piedosa de Sete. Isto é repetido oito vezes no capítulo cinco. Mas Enoque é um tipo daqueles que verdadeiramente caminham com Deus. A morte não irá tragá-los. Eles serão conduzidos à eterna presença de Deus, em cuja companhia viverão para sempre. A morte pode ser vista com naturalidade pelos verdadeiros crentes, pois o seu aguilhão foi removido pela obra de Deus na morte de Jesus Cristo, o "descendente da mulher" (Génesis 3:15).


Aplicação

Não podemos deixar estes versículos sem mostrar a sua relevância para nós hoje. A coisa mais importante do mundo, segundo Moisés, o que determina o destino dos homens, não é a sua contribuição à cultura ou à civilização (por mais importante que seja). Quer tenhamos ou não granjeado a nossa reputação por nós mesmos, isso é de pouca consequência eterna. O factor decisivo para cada homem mencionado nestes capítulos é somente um: será que o nome deles estava no livro de Deus? Moisés começou o capítulo cinco com estas palavras: "Este é o livro da genealogia de Adão. No dia em que Deus criou o homem, à semelhança de Deus o fez" (Génesis 5:1).

E, no último livro da Bíblia, encontramos as seguintes palavras:

"Vi também os mortos, os grandes e os pequenos, postos em pé diante do trono. Então se abriram os livros. Ainda outro livro, o livro da vida, foi aberto. E os mortos foram julgados, segundo as suas obras, conforme o que se achava escrito nos livros. Deu o mar os mortos que nele estavam. A morte e o além entregaram os mortos que neles havia. E foram julgados, um por um, segundo as suas obras. Então, a morte e o inferno foram lançados para dentro do lago de fogo. Esta é a segunda morte, o lago de fogo. E, se alguém não foi achado inscrito no livro da vida, esse foi lançado para dentro do lago de fogo" (Apocalipse 20:12-15).

O que determinou o destino dos homens da Antiguidade foi se o seu nome estava no livro da geração de Caim ou no livro da geração de Sete. E o que determinou o nome daqueles que são listados no capítulo cinco foi o seu reconhecimento de pecado pessoal e a sua fé em Deus para prover a salvação prometida por Ele.

E hoje em dia, ainda é assim. A pergunta que fica é: em que genealogia seremos encontrados? Ainda estamos em Adão ou já estamos em Cristo (Romanos 5)? Se reconhecermos que somos pecadores, que merecemos o castigo eterno de Deus e confiamos na justiça do Senhor Jesus e na Sua morte substitutiva, estamos em Cristo. O nosso nome está no livro da vida. Se não, estamos em Adão. Embora as nossas obras possam impressionar os homens, elas não satisfarão o padrão de Deus para a vida eterna. Em qual livro o nosso nome será encontrado?

Em segundo lugar, este capítulo lembra-nos que o valor de um homem, aos olhos de Deus, deve ser manifestado nos seus filhos. Essa é a razão pela qual os presbíteros devem ser avaliados, em parte, pelo seu desempenho como pais (1 Timóteo 3; Tito 1). Como isso deve mudar os nossos valores e as nossas prioridades! Caim edificou para o seu filho, mas Sete edificou o seu filho. Caim sacrificou os seus filhos ao sucesso. Sete encontrou sucesso nos seus filhos. Como é frequente a nossa necessidade de sermos relembrados das palavras do salmista:

"Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam; se o Senhor não guardar a cidade, em vão vigia a sentinela. Inútil vos será levantar de madrugada, repousar tarde, comer o pão que penosamente granjeastes; aos seus amados ele dá enquanto dormem. Herança do Senhor são os filhos; o fruto do ventre, seu galardão. Como flechas na mão do guerreiro, assim os filhos da mocidade. Feliz o homem que enche deles a sua aljava; não será envergonhado, quando pleitear com os inimigos à porta" (Salmo 127).

O salmista está a relembrar a quem é viciado em trabalho que lutar pelo sucesso quase sempre sacrifica o que é de maior valor. Ele nos diz que os filhos, o grande presente de Deus aos homens, não são dados durante a labuta, mas durante o sono, não por se levantar cedo e deitar tarde, mas por descansar na fidelidade de Deus. Que comentário excelente de Génesis cinco encontra-se nas difíceis palavras de Paulo na primeira carta a Timóteo:

"A mulher aprenda em silêncio, com toda a submissão. E não permito que a mulher ensine, nem exerça autoridade de homem; esteja, porém, em silêncio. Porque, primeiro, foi formado Adão, depois, Eva. E Adão não foi iludido, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão. Mas ela será preservada pelo nascimento de filhos se eles continuarem em fé e amor, e em santidade com domínio próprio" (1 Timóteo 2:11-15).

As mulheres que não concordam com o ensinamento de Paulo talvez protestem: "Mas como posso encontrar satisfação com todas essas proibições, e como posso contribuir de forma significativa para a igreja?" Paulo diz que, de facto, "o trabalho mais importante de todos para a mulher temente a Deus é criar filhos tementes a Deus".

E, a fim de não aplicarmos isso somente às mulheres, vamos sugerir que o mesmo vale para os homens, embora esta não seja a intenção original de Paulo neste versículo. Os pais estão a sacrificar os seus filhos pelo sucesso no mundo dos negócios ou no ministério cristão? Não há chamado mais importante do que criar filhos tementes a Deus. Se falharmos neste ponto, teremos falhado no nosso maior chamado. Sabemos que há quem não tenha, ou não possa, ter filhos. Por isso, dizemos que não estamos na mesma época dos antigos israelitas. A linhagem piedosa foi preservada e o Messias já veio pela descendência da mulher. No entanto, é vital para o propósito de Deus que os remanescentes fieis continuem a realizar a Sua obra para o homem e por intermédio do homem. Nós, então, precisamos continuar a gerar filhos espirituais e nutri-los com as verdades da Palavra de Deus. Vamos levar a sério esta tarefa.

Estudo sobre Génesis 5

INTRODUÇÃO

Génesis capítulo 4 contém o registo de Caim e dos seus descendentes. Em Génesis capítulo 5, a ênfase muda para Sete e para a sua geração. Como ninguém da semente de Caim sobreviveu ao dilúvio, nós todos somos descendentes de Sete, através de Noé e dos seus filhos.


I. A INTRODUÇÃO DO CAPÍTULO - GÉNESIS 5:1-2.

Em Génesis 5:1 e 2, nós temos a explanação do conteúdo do capítulo 5 e uma breve revisão da criação do homem. Duas coisas são dignas de nota:

A. Somente aqui e em Mateus 1:1, a frase "livro das gerações" é utilizada na Bíblia. É interessante notar que em Génesis a frase diz respeito a Adão, e em Mateus a Jesus Cristo, o último Adão.

B. Devemos perceber que em Génesis 5:2, tanto o homem quanto a mulher são chamados de Adão. A palavra Adão no Hebraico é utilizada genericamente para "homem", embora este fosse um nome pessoal dado ao homem. Este conhecimento esclarece o título de Cristo como "o último Adão" [1 Coríntios 15:45]. Como Adão foi o representante dos seus descendentes, assim Cristo veio como o "último Adão" para representar o Seu povo no Calvário.


II. A GENEALOGIA DE SETE - GÉNESIS 5:3-20.

Uma coisa notável aqui é a longevidade destes antigos homens. Não há motivo para entendermos estes anos como alguma outra coisa além de anos solares normais. Muitos motivos têm sido sugeridos para que a vida fosse estendida na sua amplitude. Talvez o pecado não tivesse ainda afectado totalmente a genética e a constituição física do homem. Alguns pensam que talvez seja pelo facto do clima da Terra e do meio ambiente serem totalmente diferentes antes do dilúvio. Entretanto, tudo isso é mera teoria. Nós ficamos contentes em saber que Deus é quem permitiu isso. Infelizmente uma vida longa não promove a piedade [Génesis 6:5].


III. ENOQUE - GÉNESIS 5:21-27.

Aqui nós encontramos um dos homens mais interessantes das Escrituras. As coisas que sabemos a respeito de Enoque:

A. Enoque era o sétimo depois de Adão, e veio através de Sete [Judas 14-15]. É interessante notar que Lameque foi o sétimo depois de Adão, através de Caim [Génesis 4:18-24]. Enoque foi um homem temente a Deus, enquanto Lameque foi um rebelde. Isto demonstra a influência de Caim e de Sete sobre as suas famílias.

B. Enoque andava com Deus - Génesis 5:24.

C. Enoque pregou para a sua geração ímpia [Judas 14-15].

D. Enoque agradou a Deus [Hebreus 11:5].

E. Enoque foi trasladado para a presença de Deus para não ver a morte [Génesis 5:24; Hebreus 11:5]. Isto nos leva a pensar no motivo que levou Enoque à conversão. Em Génesis 5:21 e 22, vemos que ele veio a andar com Deus após o nascimento de Matusalém, aos sessenta e cinco anos de idade. O nome de Matusalém era profético e se referia à vinda do dilúvio. Em essência, foi dito a Enoque, que logo após a morte de Matusalém o dilúvio viria. Sem dúvida isto produziu a sua conversão e a sua ardente pregação. (Não é notável que o homem cuja vida foi prolongada até quando Deus enviou o dilúvio viveu mais do que qualquer outro homem? Isto não ilustra a longanimidade de Deus?).


IV. OS DESCENDENTES DE LAMEQUE - GÉNESIS 5:28-32

Lameque (não deve ser confundido com o descendente de Caim) foi o pai de Noé. O nome Noé significa "descanso" ou "conforto". De alguma maneira Lameque viu em Noé alguém que foi enviado para confortá-lo, enquanto ele trabalhava na terra amaldiçoada pelo pecado. Note-se que Noé teve muitos irmãos e irmãs, mas, infelizmente nenhum deles se arrependeu e entrou na Arca. Verdadeiramente Noé permaneceu solitário na sua fé em Cristo. O capítulo termina ao dar os nomes dos três filhos de Noé. Através deste homem a Terra foi repovoada após o dilúvio.


ANEXO 1

Este comentário foi passado ao autor por um velho pastor.

GÉNESIS Capítulo 5 - Gerações.

1. Adão era da idade de 130 anos quando Sete nasceu.

2. Adão era da idade de 235 anos quando Enos nasceu.

3. Adão era da idade de 325 anos quando Cainã nasceu.

4. Adão era da idade de 395 anos quando Maalaleel nasceu.

5. Adão era da idade de 460 anos quando Jarede nasceu.

6. Adão era da idade de 622 anos quando Enoque nasceu.

7. Adão era da idade de 687 anos quando Matusalém nasceu.

8. Adão era da idade de 874 anos quando Lameque nasceu.

Lameque era da idade de 56 anos quando Adão morreu. Matusalém e Lameque puderam receber a história da criação directamente de Adão. Lameque foi o pai de Noé. Noé foi a décima geração desde Adão. Matusalém poderia ter passado a história da criação de Adão para os filhos de Noé, Cão, Sem e Jafé, que eram da idade de 100 anos quando Matusalém morreu.

O dilúvio ocorreu no ano 600 da vida de Noé. Da criação de Adão até ao dilúvio, passaram-se 1656 anos. Noé viveu 350 anos após o dilúvio. Abrão era da idade de 56 anos quando Noé morreu. Sem viveu 500 anos após o dilúvio. Jacó era da idade de 48 anos quando Sem morreu.

A história da criação e o relato do dilúvio poderiam ter vindo desde Adão até Matusalém, de Matusalém até Sem; e de Sem até Jacó. Os doze filhos de Israel (Jacó) quando habitaram no Egipto, conheciam a história muito bem. Moisés que escreveu o relato da criação e do dilúvio, pertenceu à terceira geração que estava no Egipto.

A mensagem poderia ter vindo de Adão até Matusalém, e então para Sem, depois para Jacó, em seguida para Levi e finalmente até Moisés. Este relato poderia ter chegado até Moisés ao vir de boca em boca desde Adão, ao caminhar assim através de cinco gerações.

O SIGNIFICADO DOS NOMES DA GENEALOGIA DE ADÃO

O Evangelho em Génesis

Frequentemente usamos o termo bastante familiar evangelho ou boas novas. Onde, na Bíblia o termo aparece pela primeira vez? A resposta poderá causar surpresa.


Uma Mensagem Completa

A grande descoberta é que a Bíblia é um sistema de mensagens, não simplesmente 66 livros escritos por 40 pessoas há milhares de anos. A Bíblia é inteiramente coerente na sustentação da evidência de uma direcção sobrenatural, em cada detalhe.

Os rabinos judeus têm uma curiosa maneira de expressar esta idéia: dizem que não compreenderão as Escrituras até à vinda do Messias. Mas, quando Ele vier, não somente interpretará para nós cada passagem, Ele interpretará o verdadeiro sentido das palavras. Interpretará o exacto significado de cada uma das letras e até mesmo cada espaço entre elas! Quando se ouve isto pela primeira vez, consideramos como uma exagerada e colorida expressão, até ao relermos em Mateus 5:17-18:

"Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas: não vim ab-rogar, mas cumprir. Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, nem um jota ou um til se omitirá da lei, sem que tudo seja cumprido".

(um jota e um til equivalem, no hebraico, ao ponto colocado no nosso i e o corte de um t).


Um Exemplo

Podemos vislumbrar um exemplo extraordinário no capítulo 5 de Génesis, onde temos a genealogia de Adão até Noé. Este é um daqueles capítulos que frequentemente passamos rapidamente por cima, como outros capítulos deste livro, por considerá-los serem simplesmente uma genealogia. Mas Deus recompensa o estudante aplicado. Vamos examinar este capítulo com mais atenção. Na nossa Bíblia podemos ler os nomes transliterados do hebraico. O que estes nomes realmente significam?


Um Estudo das Raízes Originais

O significado dos nomes próprios pode ser uma busca bastante difícil, visto que uma tradução directa não é comummente oferecida. Mesmo um dicionário léxico convencional do hebraico pode nos trazer desapontamentos. Entretanto, um estudo das raízes originais é gratificante para percebermos fascinantes detalhes. (Um alerta: muitos auxiliares para o estudo, como um dicionário léxico convencional, podem ser bastante superficiais ao tratar de nomes próprios. Além disto, as opiniões acerca do significado das raízes originais não estão isentas de controvérsias e variações de interpretações).


Tomemos um exemplo.

O Julgamento do Dilúvio

Matusalém vem de muth, uma raiz que significa "morte"; 1 e de shalach, ao significar trazer, ou trazer em seguida. O nome Matusalém significa, "sua morte trará" 2. O pai de Matusalém profetizou a vinda do Grande Dilúvio, e certamente foi dito que enquanto o seu filho estivesse vivo, o julgamento do dilúvio seria contido, mas, assim que ele morresse, o dilúvio chegaria ou seria enviado. Será que poderemos imaginar uma criança como ele? Toda a vez que o menino se constipasse, a vizinhança toda a entrar em pânico!)

E, realmente, o dilúvio veio no ano em que morreu Matusalém 3. Interessante é que a vida de Matusalém, efectivamente, é um símbolo da misericórdia divina em adiar a vinda do julgamento do dilúvio. Portanto, é bastante significativo o tempo de vida da pessoa que mais viveu na Bíblia, ao apontar para a extensão da misericórdia de Deus.


Os Outros Nomes

Se o nome de Matusalém tem tão grande significado, examinemos os outros nomes para vermos o que pode estar por trás deles.

  • Adão

O nome de Adão significa homem. Como o primeiro homem, criado por Deus, ele era perfeito e completo.

  • Sete

O filho de Adão foi chamado Sete, o qual significa apontado, ou mostrado. Eva disse, "Deus me deu (mostrou, apontou) outro filho em lugar de Abel; porquanto Caim o matou".

  • Enos

O filho de Sete foi chamado Enos, que significa mortal, fraco ou miserável. Vem da raiz anash, ser incurável, usado para tristeza, sofrimento, desgraça, doença ou perversidade. Foi nos dias de Enos que o homem começou a corromper o nome do Deus Vivo.

  • Cainã

O filho de Enos recebeu por nome Cainã, que significa aflição, lamentação ou desgraça. (Uma definição mais precisa é de certa maneira difícil; algumas fontes de auxílio ao estudo infelizmente presumem que Queneu é sinónimo de Cainã). Balaão, ao olhar dos altos de Moabe, faz um trocadilho com o nome dos Queneus, quando profetizou a sua destruição. Não temos uma idéia precisa de como estes nomes foram escolhidos para os seus filhos. Muitas vezes estavam ligados às circunstâncias do nascimento, etc.

  • Maalalel

O filho de Cainã foi Maalalel, que vem de Mahalal, que significa santo, abençoado ou glorificado; e El, o nome para Deus. Assim Maalalel significa o Santo Deus. Muitas vezes, em Hebraico, os nome incluem El, o nome de Deus, como Dan-i-el, "Deus é meu Juiz", etc.

  • Jerede

O filho de Maalalel recebeu o nome de Jerede, do verbo yaradh, ao significar descerá.

  • Enoque

O filho de Jarede foi chamado Enoque, que significa ensino, instrução ou começo. Ele foi o primeiro de quatro gerações de pregadores. De facto, a mais antiga profecia registada foi transmitida por Enoque, a qual maravilhosamente trata da Segunda Vinda de Cristo (visto que é lembrado no livro de Judas, no Novo Testamento - Judas 14-15):

"E destes profetizou também Enoque, o sétimo depois de Adão, dizendo: Eis que é vindo o Senhor com milhares de seus santos;

Para fazer juízo contra todos e condenar dentre eles todos os ímpios, por todas as suas obras de impiedade, que impiamente cometeram, e por todas as duras palavras que ímpios pecadores disseram contra ele".

  • Matusalém

Enoque foi o pai de Matusalém, como já mencionamos. Enoque andou com Deus depois de ter gerado Matusalém. Aparentemente, Enoque recebeu a profecia do Grande Dilúvio, que declarava que tantos anos quantos o seu filho tivesse de vida, o julgamento do dilúvio seria contido. No ano em que Matusalém morreu, veio o dilúvio. Enoque, certamente nunca morreu, foi trasladado. É como Matusalém, o homem mais velho citado na Bíblia, morreu antes do seu pai!

  • Lameque

O filho de Matusalém recebeu o nome de Lameque, uma raiz hoje mais evidente, ao significar aflição ou lamentação. Lameque sugere ausência de esperança. (Este nome também é ligado ao Lameque da linha de Caim, que inadvertidamente matou o seu filho Tubalcaim num acidente de caça).

  • Noé

Lameque, é claro, é o pai de Noé, nome este derivado de nacham, trazer alívio ou conforto, como o próprio Lameque explica em Génesis 5:29.


A Composição da Lista

Vamos agora juntá-los todos:

Isto é realmente extraordinário:

(Ao) Homem (está) determinado mortal penalidade; (mas) o Santo Deus descerá a ensinar (que) Sua morte trará (ao) sem esperança, (o) descanso. Eis aqui o Evangelho oculto na genealogia de Génesis!


Evidência do Propósito

A implicação desta revelação é que o propósito é mais amplamente desenvolvido do que aparenta à primeira vista. Fica demonstrado desde os primeiros capítulos do Livro de Génesis, que Deus já havia determinado completamente o Seu plano de redenção para a grave situação da humanidade. É uma história de amor, escrita com sangue numa cruz de madeira, erguida na Judéia há quase 2000 anos.

A Bíblia é um completo sistema de mensagens, o resultado de um planeamento sobrenatural. Cada número, cada nome de lugar, cada detalhe, cada jota e til aqui está para a nossa aprendizagem, a nossa descoberta, e para nosso assombro. Verdadeiramente, o nosso Deus é um Deus impressionante. É admirável descobrir quantas controvérsias bíblicas parecem evaporar por um simples reconhecimento da unidade e integridade destes 66 livros, escritos por 40 escritores há mais de mil anos.

Significado de Génesis 5

Génesis 5

Génesis 5:1-32 - Este capítulo faz menção ao histórico familiar que conecta Adão a Noé. Nós não sabemos quanto tempo há neste processo. O sentido deste capítulo é esclarecer a ligação entre os descendentes de Adão, Sete e Noé, e não estabelecer uma cronologia.

Génesis 5:1 - A expressão livro das gerações é encontrada em dez passagens significantes em Génesis (Génesis 2:4). A genealogia de Adão é o pilar principal da construção de Génesis. No dia em que Deus criou o homem, à semelhança de Deus o fez. A imago Dei na humanidade (Génesis 1:26-28) continua depois da Queda (Génesis 3, comparar com Génesis 9:6, após o Dilúvio).

Génesis 5:2 - Macho e fêmea os criou. Na criação original da humanidade, há dois sexos complementares: o masculino e o feminino, como é estabelecido claramente em Génesis 1:26-28.

Génesis 5:3 - E Adão viveu cento e trinta anos. A vida longa das pessoas nestes primeiros capítulos de Génesis leva a uma considerável especulação. Alguns sugerem que estas idades eram possíveis por causa das tremendas diferenças de clima e de ambiente antes do Dilúvio (Génesis 5:6-9). Outros sugerem que a longevidade das pessoas é uma maneira de expressar a importância destas no mundo antigo. E [Adão] gerou um filho à sua semelhança, conforme a sua imagem. Semelhança e imagem são os mesmos termos, em ordem inversa, usados para definir a humanidade criada por Deus em Génesis 1:26.

Génesis 5:4 - E gerou [Adão] filhos e filhas. Os nossos antepassados geraram um grande número de filhos e filhas. Presumimos que houve casamento entre estes, é claro. Os problemas associados com o incesto, citados em Levítico 18, provavelmente ainda não aconteciam na época.

Génesis 5:5 - E foram todos os dias que Adão viveu novecentos e trinta anos; e morreu. Quando Deus fez Adão e Eva, a expectativa era de que estes vivessem para sempre. Houve uma profunda tristeza na morte de Adão, coisa que remeteu à sua condição de mortal e à nossa também. E morreu é o comentário feito após a morte de cada um dos dez nomes na lista deste capítulo, excepto um, Enoque (Génesis 5:24). A sentença de Deus para o homem pós-Queda é cumprida com a morte de Adão e cada um dos seus descendentes (Génesis 3:19; 6:3). A morte entrou no mundo por meio de um homem, ao passar a todas as outras pessoas (Romanos 5:12; 1 Coríntios 15:22).

Génesis 5:6-20 - As listas genealógicas nestes versículos seguem o seguinte padrão:

(1) E viveu fulano x anos, e gerou beltrano;

(2) E viveu fulano, depois que gerou beltrano, x anos, e gerou filhos e filhas;

(3) e foram todos os dias de fulano x anos, e morreu.

Vejamos também o registo da descendência de Sem (Génesis 11:10-26). Estas listas estão incompletas (comparar com a genealogia em Mateus 1:1-17). Elas servem meramente para indicar as figuras mais importantes num extenso período de tempo. Foram transmitidas oralmente, com intuito de serem memorizadas, pois fazem menção de certas figuras centrais, ao assegurar conexão entre os grandes períodos e os nomes dos pais e dos seus descendentes. Ao ser assim, quando é dito que A gerou B, este pode não ser o descendente directo daquele, mas sim um descendente importante e mais remoto. O padrão bíblico está de acordo com os padrões do antigo Oriente, que é o padrão de muitas tribos actualmente.

Génesis 5:21-24 - O nome mais fascinante nesta lista é o de Enoque. A frase e andou Enoque com Deus (Génesis 5:22, 24) exprime uma vida de comunhão com o Senhor e obediência a Ele (como também experimentou Noé, Génesis 6:8). Esta passagem remete à experiência de Adão e Eva, que viveram numa proximidade grandiosa com o Senhor, antes da Queda (Génesis 3:8). E não se viu mais [Enoque], porquanto Deus para si o tomou. Isso não significa que Enoque deixou de existir, mas que ele foi tomado, transladado, arrebatado por Deus para junto de Si. Apenas Enoque e Elias (2 Reis 2:11) tiveram essa experiência. A de Enoque, que ocorreu primeiro, foi um testemunho da sua profunda fé em Deus (Hebreus 11:5-6) e deixou uma forte lembrança, no começo da história bíblica, de que há vida na presença de Deus após a morte para as pessoas que andam com o Senhor. O que Enoque experimentou é o que cada pessoa que está com Deus poderá experimentar quando Cristo se manifestar novamente, ao dar-nos vida eterna junto ao Pai.

Génesis 5:25-27 - E viveu Matusalém cento e oitenta e sete anos e gerou a Lameque. Matusalém é citado como o homem que viveu mais do que qualquer outra pessoa mencionada em Génesis: 969 anos.

Génesis 5:28-31 - A coisa mais importante pela qual Lameque é lembrado é o seu descendente Noé, cujo significado do nome é o único comentado pelo narrador deste capítulo [este nos consolará acerca de nossas obras e do trabalho de nossas mãos, por causa da terra que o SENHOR amaldiçoou]. A palavra Noé [em hebraico Noach, repouso] vem de um verbo que significa descansar, e está associado a alívio. O nascimento de Noé, para o seu progenitor, significava uma inversão de curso para a humanidade.

Génesis 5:32 - Os filhos de Noé, Sem, Cam e Jafé, figuram na história do Dilúvio (Génesis 6-9). Génesis 6:1 - O termo filhas significa claramente as crianças do sexo feminino de pais humanos. As filhas eram as mulheres.

A Questão da Genealogia de Génesis

O Novo Testamento começa com o livro da genealogia de Jesus Cristo (Mateus 1:1), que é o segundo Adão (1 Coríntios 15:45). A expressão do livro provavelmente indica a fonte da informação escrita obtida por Moisés. Temos no capítulo 5 do livro de Génesis, então uma sequência da descendência de Adão em linha recta até Noé, ao dar-nos detalhes de nomes e idades, e apenas a acrescentar comentários sobre Adão, Enoque e Lameque. Ao somar as idades, temos de Adão até o ano do dilúvio, 1.656 anos. E com base nisso, desde que Adão surgiu teria se passado apenas 6 mil anos... E isso tem algum problema? Na verdade, o problema é que, embora o registo fóssil indique gerações de humanos tal qual descreve o Génesis, o período que é datado de Adão (possivelmente Homo heidelbergensis) até Noé (que já era, obviamente, Homo sapiens) é de cerca de 190 mil anos aproximadamente, o que é muito maior do que a soma das idades da geração de Adão até Noé registados na Bíblia.

O que dizer mediante esta contradição dos factos? Podemos tirar qual real proveito de Génesis capítulo 5? Esta realmente é uma questão bem delicada, tão delicada que muitas vezes se diz "jamais saberemos a resposta". No entanto, após uma atenta análise do assunto nós poderemos chegar a uma resposta mais sólida...


"NÃO SÃO TÃO EMPOLGANTES..."

Temos que admitir: as genealogias nunca foram as partes mais lidas da Bíblia. Por exemplo, Ray Stedman conta a história de um velho ministro escocês que estava a ler o primeiro capítulo do Evangelho de Mateus. Ele começou a ler: "Abraão gerou a Isaque, e Isaque gerou a Jacó, e Jacó gerou a Judá"; olhou à frente e viu a lista a seguir e disse: "e eles continuaram a gerar um ao outro página abaixo, até a metade da próxima página" ...Brincadeira à parte, para sermos honestos, isto é o que a maioria de nós faz com as genealogias da Bíblia - nós as passamos à frente.

Leupold, num dos clássicos comentários do livro de Génesis dá esta palavra de aviso aos pregadores: "Nem todo o homem se arriscaria a usar este capítulo como texto numa pregação". Nem todos mesmo. Há um versículo das Escrituras, inclusive, que não nos deixará passar por Génesis 5 sem um sério estudo desta genealogia: "Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correcção e para a educação na justiça" (2 Timóteo 3:16). Ou seja, não é sem importância que aquele registo está ali. Mas afinal de contas, serviriam elas para datar a história da Terra?


OMISSÕES NO REGISTO

O quinto capítulo de Génesis é apenas uma das muitas genealogias contidas nas Escrituras. Aprender a realidade deste capítulo nos encorajará e instruirá em como abordar as outras inúmeras genealogias da Bíblia. Em primeiro lugar, temos que compreender que as genealogias de Génesis 5 e 11 não são, de forma alguma, as únicas dos tempos antigos. Os egípcios tinham registos dos seus reis, assim como os sumérios.

Os hititas tinham catálogos de oferendas reais, sem dúvida nenhuma de valor histórico e cronológico. Estas antigas genealogias do Médio Oriente são muito instrutivas para determinar a correcta interpretação dos registos bíblicos. Mas o que muitos não atentam é que as genealogias não tinham a intenção de serem usadas como cronologia. Como já foi mencionado, os Criacionistas da Terra Jovem lêem Génesis 5 e pensam que só precisam somar os números ali contidos para estabelecer a idade da civilização na Terra. Ussher, por exemplo, chegou à data de 4.004 a.C para os acontecimentos de Génesis 1, ou seja, a Criação. Com isto, teríamos um tempo absurdamente curto para a Pré-História e Adão ao ter convivido com todos os seus descendentes, à excepção de Noé. A nomeação individual não implica, necessariamente, que uma sequência contínua deva ser presumida. Com frequência, nomes foram omitidos e os registos genealógicos foram selectivos. Ou seja, temos um cálculo errado da história da civilização se usarmos a base de cálculos apresentada pelos Criacionistas da Terra Jovem, uma vez que os cálculos seriam com base em pontos específicos da genealogia e não nela como um todo. Como assim?

Acontece que a expressão "A gerou B" nem sempre implica em parentesco directo. E temos exemplos disso em outras genealogias contidas na Bíblia. Por exemplo, Mateus 1:8 afirma que "Jorão gerou Uzias", mas, no Velho Testamento (2 Reis 8:25; 11:2; 14:1, 21) aprendemos que Jorão foi o pai de Acazias, que foi pai de Joás, pai de Amazias, pai de Uzias. Assim, "gerou" pode significar "gerou uma linhagem que culminou em".

E isso não é algo anormal numa genealogia; na verdade nunca foi. De acordo com Kitchen, a lista do Rei Abydos no Egipto, por exemplo, silenciosamente omite três grupos inteiros de reis (Nona para Undécima, Décima Terceira para Décima Sétima Dinastias e os faraós Amarna) em três pontos distintos, no que seria, de outra forma, uma série contínua; e outras fontes nos capacitam a saber isto. Ao ser assim, termos como "filho" e "pai" podem significar não só "filho (neto)" e "pai (avô)", mas também "descendente" ou "ancestral", respectivamente.

A disposição das genealogias, num padrão claro e organizado, também pode sugerir algumas outras coisas, menos um indicador cronológico. A genealogia de Cristo em Mateus, por exemplo (Mateus 1:1-17), está disposta em três séries de 14 gerações cada. E esta genealogia é conhecida como selectiva. Geralmente os números nas genealogias no Antigo Médio Oriente eram de importância secundária.

O propósito primário era estabelecer a identidade familiar de alguém, as suas raízes. É para isso que a genealogia está na Bíblia. Mas em parte alguma de Génesis 5, ou da Bíblia, os números foram acrescentados para estabelecer qualquer tipo de cronologia. Às vezes, os números de um relato diferem dos de outro. Ainda que haja muitas explicações para isto, uma delas é que estes números foram dados apenas aproximadamente. Números exactos não servem ao propósito da genealogia. Ainda que não ousemos dizer que os números não sejam literais, simplesmente mostramos a maneira como tais números foram usados no antigo Oriente. Por exemplo, a afirmação de Génesis 15:13 a respeito da duração da estadia no Egipto, ou de 1 Reis 6:1 ao cobrir o lapso de tempo entre o Êxodo e a construção do templo de Salomão. Não tem como sabermos o porquê da omissão, e isso, claramente, indica que não se tratam de dados cronológicos precisos.

Especialmente na sociedade pré-monárquica, longos registos cronológicos são altamente improváveis por causa da sua falta de importância. Antes, pode-se esperar que as aproximações sejam feitas de várias maneiras, e o uso de números redondos, particularmente, sugere algum grau de aproximação. É o significado destes números para os escritores bíblicos que devemos compreender antes de tentar construir uma cronologia absoluta sobre eles.


E JUDAS 14?

Porém, ao saber agora que a cronologia bíblica pode não ter um sentido cronológico exacto, o que então podemos dizer a respeito de Judas versículo 14? Lá diz o seguinte:

"E destes profetizou também Enoque, o sétimo depois de Adão, dizendo: Eis que é vindo o Senhor com milhares de seus santos;"

Superficialmente este versículo parece indicar que a genealogia de Génesis pode indicar que a humanidade tem só 6 mil anos de existência. Porém, a verdade não é bem assim.

É certo que este versículo claramente prova que Enoque foi uma pessoa real e revela detalhes interessantes do tempo de Enoque e do seu carácter (muitos creem que essa é uma referência ao livro de Enoque, que a ver, pode ter alguns pontos reais no seu relato), no entanto, não há menção em Judas 14 a respeito do que se refere no que Enoque era o sétimo depois de Adão, tanto é que existe duas concepções acerca disso: ou Enoque representa a sétima geração após Adão ou Enoque foi o sétimo descendente directo de Adão. Alguns julgam ainda que Enoque ainda teria sido apenas o sétimo grande patriarca depois de Adão. Enfim, o sentido deste trecho de Judas 14 é incerto.

Em todo o caso, se Judas 14 se referir a Enoque como a ser realmente o sétimo descendente de Adão, isso apenas indicaria que, de Adão a Enoque, o sentido cronológico foi exacto, e que a omissão na genealogia estaria entre Matusalém e Noé. Em outras palavras, Judas 14 não serve como indicador preciso de que a humanidade tem apenas 6 mil anos. Nem o livro de Génesis. Essa não é a intenção de ambos.


DUAS GERAÇÕES

Ora, se não podemos usar cronologicamente a genealogia de Génesis capítulo 5, existe alguma lição que podemos tirar deste registo? Na verdade, sim. E a resposta está no paralelo que apresenta a genealogia de Caim, no capítulo 4 de Génesis, e a genealogia de Sete, no capítulo 5. Como assim? Se analisarmos o texto, veremos a ênfase que é dada na genealogia de Sete, onde há o registo inclusive da idade dos patriarcas (que indica uma incrível longevidade, o que talvez seria uma "sequela" da vida eterna que teria Adão antes de comer o fruto), e até algumas referências ao alegar que muitos eram fiéis a Deus (lemos lá a citação de que Enoque foi transladado porque andava com Deus).

A genealogia de Caim é citada de forma muito breve, no entanto; as únicas coisas que são realmente destacadas na genealogia do capítulo 4 são as contribuições culturais desta (instrumentos musicais, cidades, cabanas... relativas curiosamente à cultura dos Homens de Neanderthal) e o mau exemplo da geração em questão. Aliás, sobre Lameque e Enoque, é curioso o contraste que temos. Observe-se:

- O Enoque filho (ou descendente) de Caim deu início à cultura Neanderthalense, que era de humanos corruptos. O Enoque filho de Jarede andou com Deus e foi curiosamente arrebatado.

- O Lameque filho de Metusael deu início à poligamia, era um assassino, tinha orgulho de o ser e fez pouco caso da ordem de Deus para Caim.

- Já o Lameque filho (ou descendente) de Matusalém foi um homem piedoso; o nome do seu filho revela a sua compreensão da queda do homem e a maldição de Deus sobre o solo. Também mostrou a sua fé em que Deus libertaria o homem da maldição através da descendência de Eva.

Por que este contraste? Simplesmente porque isso demonstra que, embora toda a geração humana estivesse amaldiçoada com a morte, somente a geração de Sete, a Homo sapiens, sobreviveu. A "geração dos homens piedosos", digamos assim. Enquanto que, a geração que embora tivesse progressos culturais era um verdadeiro contra-exemplo, foi "lavada" pelo dilúvio.


LIÇÃO DE PROVEITO

A pergunta para isto, ao ver para os dias de hoje é: Ao considerar que Jesus compara o dilúvio bíblico com o Fim dos Tempos, nós estamos em qual geração espiritual: a se Sete ou a de Caim? E, ao falar nisso, é interessante notarmos a similaridade da geração de Caim com a geração do mundo de hoje; é como se o relato da genealogia de Génesis fosse um reflexo directo do que vemos em Apocalipse, conforme menciona o teólogo e missionário Edson Teixeira. O crescimento incrível da tecnologia, a exclusão de Deus da vida dos descendentes de Caim (que é constatada pelo significado do próprio nome do primeiro filho de Caim, Metusael, que no hebraico significa "Deus foi banido"), a começar pelo próprio Caim, é surpreendentemente semelhante ao que acontece hoje à civilização moderna. E da mesma forma como diz o Apocalipse sobre o que vai acontecer com a civilização secular de hoje, a geração de Caim foi exterminada por um evento cataclísmico enviado por Deus à Terra (o dilúvio). Ao ser assim, cabe a nós analisarmos: em que geração hoje nós podemos nos enquadrar? Na geração salva de Sete, ou na geração perdida de Caim?


CONCLUSÃO

Ao levar em conta que não chegaremos a dados precisos ao estabelecer uma data para o começo da civilização com base na genealogia contida em Génesis, é certo que não há contradição entre a Bíblia e os métodos científicos de datação, que indicam o aparecimento da raça humana há 200 mil anos a.C. Ao ter esta nova visão de genealogia, acabamos também por "ganhar" um registo arqueológico completo das gerações de Caim e de Sete, mencionadas no capítulo 5. Isso porque, segundo os mais recentes estudos, a nossa espécie actual surgiu de uma espécie ancestral em paralelo com outra espécie humana - a Neanderthal - que foi extinta inexplicavelmente, mesmo com toda a cultura que possuía. Vamos considerar, então, cuidadosamente as palavras do grande estudioso, Dr. B. B. Warfield, quando escreve:

"Estas genealogias devem ser consideradas confiáveis ao propósito para o qual foram registadas; mas não podem ser aplicadas com segurança ao uso de outros propósitos para os quais não foram intencionadas, e para os quais não são adequadas. Particularmente, fica claro que o propósito pelo qual as genealogias foram dadas, não requer um registo completo de todas as gerações, através das quais os descendentes das pessoas a quem foram destinadas, se dirige; mas apenas uma indicação adequada da linhagem particular através da qual vem o descendente em questão. De acordo com o que se depreende de um exame mais zeloso, essas genealogias das Escrituras são aplicadas livremente para toda a sorte de propósitos e, raramente pode-se afirmar, com segurança, que elas contém um registo completo de todas as séries de gerações, uma vez que é óbvio que, muitas vezes, um grande número delas é omitido. Não há razão inerente à natureza das genealogias das Escrituras pela qual uma genealogia de dez sequências registadas, tais como as de Génesis 5 e 11, não possam representar um descendente real de uma centena ou milhar ou dez milhares de sequências. O ponto a ser estabelecido não é que estas sejam todas sequências que ocorreram entre o início e o fim dos nomes, mas que isto é uma linha de ascendência através da qual alguém encontra o antecedente ou descendente de outrem".

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