A criação do céu e da Terra e de tudo o que neles se contém
Génesis 1:1 - No princípio, criou Deus os céus e a terra
A expressão No princípio é enfática, e chama a atenção para o facto de um princípio real. Outras religiões antigas, ao falarem da criação, afirmam que esta ocorreu a partir de algo já existente. Referem-se à história como algo que ocorre em ciclos perpétuos. A Bíblia olha para a história de modo linear, com um alvo final determinado por Deus. Deus teve um plano na criação, o qual Ele levará a efeito. Uma vez que Deus é a origem de tudo quanto existe, os seres humanos e a natureza não existem por si mesmos, mas devem a Ele a sua existência e a sua propagação. Toda a existência e forma de vida são boas se estão correctamente relacionadas com Deus e dependentes Dele. Toda a vida e criação pode ter relevância e propósito eternos. Deus tem direitos soberanos sobre toda a criação, em virtude de ser o seu Criador. Num mundo caído, Ele reafirma esses direitos mediante a redenção (Êxodo 6:6; 15:13; Deuteronómio 21:8; Lucas 1:68; Romanos 3:24; Gálatas 3:13; 1 Pedro 1:18).
Estudos Doutrinários
A criação
Génesis 1:1 "No princípio, criou Deus os céus e a terra".
O DEUS DA CRIAÇÃO. Deus revela-se na Bíblia como um ser infinito, eterno, auto-existente e como a Causa Primária de tudo o que existe. Nunca houve um momento em que Deus não existisse. Conforme afirma Moisés: "Antes que os montes nascessem, ou que tu formasses a terra e o mundo, sim, de eternidade a eternidade, tu és Deus" (Salmos 90:2). Noutras palavras, Deus existiu eterna e infinitamente antes de criar o universo finito. Ele é anterior a toda a criação, no céu e na terra, está acima e independente dela (1Timóteo 6:16; Colossenses 1:16).
(2) Deus revela-se como um ser pessoal que criou Adão e Eva "à sua imagem" (Génesis 1:27). Porque Adão e Eva foram criados à imagem de Deus, podiam comunicar-se com Ele, e também com Ele ter comunhão de modo amoroso e pessoal.
(3) Deus também se revela como um ser moral que criou tudo o que é bom e, portanto, sem pecado. Ao terminar Deus a obra da criação, contemplou tudo o que fizera e observou que era "muito bom" (Génesis 1:31). Posto que Adão e Eva foram criados à imagem e semelhança de Deus, eles também não tinham pecado. O pecado entrou na existência humana quando Eva foi tentada pela serpente, ou Satanás (Génesis 3; Romanos 5:12; Apocalipse 12:9).
A ACTIVIDADE DA CRIAÇÃO
Deus criou todos as coisas em "os céus e a terra" (Génesis 1:1; Isaías 40:28; 42:5; 45:18; Marcos 13:19; Efésios 3:9; Colossenses 1:16; Hebreus 1:2; Apocalipse 10:6). O verbo "criar" (em hebraico "bara") é usado exclusivamente em referência a uma actividade que somente Deus pode realizar. Significa que, num momento específico, Deus criou a matéria e a substância, que antes nunca existiram. A Bíblia diz que no princípio da criação a terra estava informe, vazia e coberta de trevas (Génesis 1:2). Naquele tempo o universo não tinha a forma ordenada que tem agora. O mundo estava vazio, sem nenhum ser vivente e destituído do mínimo vestígio de luz. Passada essa etapa inicial, Deus criou a luz para dissipar as trevas (Génesis 1:3-5), deu forma ao universo (Génesis 1:6-13) e encheu a terra de seres viventes (Génesis 1:20-28).
(3) O método que Deus usou na criação foi o poder da sua palavra. Repetidas vezes está declarado: "E disse Deus..." (Génesis 1:3, 6, 9, 11, 14, 20, 24, 26). Noutras palavras, Deus falou e os céus e a terra passaram a existir. Antes da palavra criadora de Deus, eles não existiam (Salmo 33:6, 9; 148:5; Isaías 48:13; Romanos 4:17; Hebreus 11:3). Toda a Trindade, e não apenas o Pai, desempenhou a sua parte na criação. O próprio Filho é a Palavra ("Verbo") poderosa, através de quem Deus criou todas as coisas. No prólogo do Evangelho segundo João, Cristo é revelado como a eterna Palavra de Deus (João 1:1). "Todas as coisas foram feitas por Ele, e sem Ele nada do que foi feito se fez" (João 1:3). Semelhantemente, o apóstolo Paulo afirma que por Cristo "foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis... tudo foi criado por Ele e para Ele" (Colossenses 1:16). Finalmente, o autor do Livro de Hebreus afirma enfaticamente que Deus fez o universo por meio do seu Filho (Hebreus 1:2). Semelhantemente, o Espírito Santo desempenhou um papel activo na obra da criação. Ele é descrito como "pairando" ("se movia") sobre a criação, ao preservá-la e a prepará-la para as actividades criadoras adicionais de Deus. A palavra hebraica traduzida por "Espírito" (ruah) também pode ser traduzida por "vento" e "fôlego". Por isso, o salmista testifica do papel do Espírito, ao declarar: "Pela palavra do Senhor foram feitos os céus; e todo o exército deles, pelo espírito (ruah) da sua boca" (Salmos 33:6). Além disso, o Espírito Santo continua a manter e a sustentar a criação (Jó 33:4; Salmos 104:30).
O PROPÓSITO E O ALVO DA CRIAÇÃO
Deus tinha razões específicas para criar o mundo. Deus criou os céus e a terra como manifestação da sua glória, majestade e poder. Davi diz: "Os céus manifestam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos" (Salmos 19:1). Ao olharmos a totalidade do cosmos criado - desde a imensa expansão do universo, à beleza e à ordem da natureza - ficamos tomados de temor reverente ante a majestade do Senhor Deus, o nosso Criador. Deus criou os céus e a terra para receber a glória e a honra que lhe são devidas. Todos os elementos da natureza - o sol e a lua, as árvores da floresta, a chuva e a neve, os rios e os mares, as colinas e as montanhas, os animais e as aves - rendem louvores ao Deus que os criou (Salmos 98:7-8; 148:1-10; Isaías 55:12). Quanto mais Deus deseja e espera receber glória e louvor dos seres humanos! Deus criou a terra para prover um lugar onde o seu propósito e alvos para a humanidade fossem cumpridos. Deus criou Adão e Eva à sua própria imagem, para comunhão amorável e pessoal com o ser humano por toda a eternidade. Deus projectou o ser humano como um ser trino e uno (corpo, alma e espírito), que possui mente, emoção e vontade, para que possa comunicar-se espontaneamente com Ele como Senhor, adorá-lo e servi-lo com fé, lealdade e gratidão. Deus desejou de tal maneira esse relacionamento com a raça humana que, quando Satanás conseguiu tentar Adão e Eva a ponto de se rebelarem contra Deus e desobedecer ao seu mandamento, Ele prometeu enviar um Salvador para redimir a humanidade das consequências do pecado. Daí Deus teria um povo para a sua própria possessão, cujo prazer estaria Nele, que o glorificaria, e que viveria em rectidão e santidade diante Dele (Isaías 60:21; 61:1-3; Efésios 1:11-12; 1Pedro 2:9). A culminação do propósito de Deus na criação está no livro do Apocalipse, onde João descreve o fim da história com estas palavras: "...com eles habitará, e eles serão o seu povo, e o mesmo Deus estará com eles e será o seu Deus" (Apocalipse 21:3).
CRIAÇÃO E EVOLUÇÃO
A evolução é o ponto de vista predominante, proposto pela comunidade científica e educacional do mundo actual, ao se tratar da origem da vida e do universo. Quem crê, de facto, na Bíblia deve atentar para estas quatro observações a respeito da evolução.
(1) A evolução é uma tentativa naturalista para explicar a origem e o desenvolvimento do universo. Tal intento começou com a pressuposição de que não existe nenhum Criador pessoal e divino que criou e formou o mundo; pelo contrário, tudo veio a existir mediante uma série de acontecimentos que decorreram por acaso, ao longo de biliões de anos. Os defensores da teoria da evolução alegam possuir dados científicos que apoiam a sua hipótese.
(2) O ensino evolucionista não é realmente científico. Segundo o método científico, toda a conclusão deve basear-se em evidências incontestáveis, oriundas de experiências que podem ser reproduzidas em qualquer laboratório. No entanto, nenhuma experiência foi idealizada, nem poderá sê-lo, para testar e comprovar teorias em torno da origem da matéria a partir de um hipotético "grande estrondo", ou do desenvolvimento gradual dos seres vivos, a partir das formas mais simples às mais complexas. Por conseguinte, a evolução é uma hipótese sem "evidência" científica, e somente quem crê em teorias humanas é que pode aceitá-la. A fé do povo de Deus, pelo contrário, firma-se no Senhor e na sua revelação inspirada, a qual declara que Ele é quem criou do nada todas as coisas (Hebreus 11:3).
(3) É inegável que alterações e melhoramentos ocorrem em várias espécies de seres viventes. Por exemplo: algumas variedades dentro de várias espécies estão a extinguir-se; por outro lado, ocasionalmente vemos novas raças a surgir dentre algumas das espécies. Não há, porém, nenhuma evidência, nem sequer no registo geológico, a apoiar a teoria de que um tipo de ser vivente já evoluiu doutro tipo. Pelo contrário, as evidências existentes apoiam a declaração da Bíblia, que Deus criou cada criatura vivente "conforme a sua espécie" (Génesis 1:21, 24-25).
(4) Os crentes na Bíblia devem, também, rejeitar a teoria da chamada evolução teísta. Essa teoria aceita a maioria das conclusões da evolução naturalista; apenas acrescenta que Deus deu início ao processo evolutivo. Essa teoria nega a revelação bíblica que atribui a Deus um papel activo em todos os aspectos da criação. Por exemplo, todos os verbos principais em Génesis 1 têm Deus como o seu sujeito, a não ser em Génesis 1:12 (que cumpre o mandamento de Deus em Génesis 1:11) e a frase repetida "E foi a tarde e a manhã". Deus não é um supervisor indiferente, de um processo evolutivo; pelo contrário, é o Criador activo de todas as coisas (Colossenses 1:16).