OS 5 PRIMEIROS LIVROS DA BÍBLIA - PENTATEUCO

O livro do Génesis:
O primeiro livro da Bíblia recebeu o nome de Génesis porque narra a génese, isto é, a origem do mundo, dos seres humanos, do pecado, do ódio, das raças humanas e do povo de Israel. Os seus escritos datam entre os séculos IX e VI a.C., a sua redacção final aconteceu no século V a.C. Está assim dividido:
Génesis 1-11 é a história das origens da humanidade.
Génesis 12-25 é a história dos patriarcas Abraão, Isaque, Jacó e José (um dos filhos de Jacó).
O livro começa ao narrar a história da criação do mundo e de todos os seres vivos. A criação não é mero capricho de Deus, mas um gesto de amor. A semana é apenas um artifício literário para ensinar que tudo o que existe é obra de Deus e quer reforçar o descanso sabático.
O ápice desta criação e portanto desta narração é a criação do homem e mulher à imagem e semelhança de Deus. Ser imagem e semelhança de Deus significa ser dotado de vontade e liberdade. Depois mostra a entrada e evolução do pecado ao atingir a família com o assassinato de Abel. Para conter o avanço do pecado vem o dilúvio. Com a história da Torre de Babel, o autor sagrado mostra como os homens novamente tentam ocupar o lugar de Deus e são espalhados por toda a terra.
A seguir o texto apresenta Abraão, um pastor semi-nómada de Ur da Caldéia, que por inspiração divina deixa a sua terra e a sua família e vai à procura da terra prometida. O objectivo do redator não é descrever os factos em si mesmos, mas descobrir neles a presença divina.
O livro traz uma série de ensinamentos importantes. Estão apenas alguns especificados:
Tudo o que existe foi criado por Deus, criado com sabedoria e amor, portanto todas as criações são boas.
Deus existe antes de todo o tempo, é eterno, não foi criado.
O homem e a mulher são imagem e semelhança de Deus e, como tal, são os senhores de toda a criação.
A mulher é companheira do homem, ambos são uma só carne.
Todo o mal que existe no mundo é consequência da desobediência de todos nós seres humanos.
Apesar do pecado, Deus não abandona a sua criatura, mas estabelece uma relação amorosa.
Assim, Deus não está longe e alheio à vida humana, mas participa da nossa história.

O Livro de Êxodo:
Na Bíblia hebraica, esse livro se chama Nomes, porque começa por relatar os nomes dos filhos de Jacó que desceram, para o Egipto. Na Bíblia grega recebeu o titulo de Êxodo, que significa saída. Esse titulo resume o conteúdo do livro, a saída ou libertação dos israelitas do Egipto. Porém, o livro não narra apenas a saída do Egipto, mas sobretudo, a manifestação de Deus na montanha do Sinai e a Aliança. A libertação é narrada nos 15 primeiros capítulos.
O livro é a continuação do Génesis, após descrever rapidamente a situação humilhante dos israelitas no Egipto, o livro começa a narrar a história do libertador, Moisés. Descreve a travessia entre o Egipto e o monte Sinai, termina a narrar a construção da Tenda ou Tabernáculo, onde Deus habitará.
O livro está assim dividido:
Libertação do Egipto
Caminho pelo deserto do Sinai.
A Aliança do Sinai.
A historicidade dos factos narrados são aceites unanimemente. Mas trata-se de uma história religiosa e de carácter popular, redigida muito tempo depois dos acontecimentos. O livro procura ressaltar a intervenção providencial de Deus na libertação e formação do povo eleito. Por isso, o autor sagrado deixa de lado as causas naturais dos acontecimentos e descreve tudo com a acção milagrosa de Deus. Não se pode negar a acção divina na libertação de Israel da opressão do Egipto, mas não se pode dizer que tudo aconteceu por uma série de intervenções milagrosas durante quarenta anos. Podemos dizer que este livro é ponto central do Antigo Testamento, é o Evangelho do Antigo Testamento. Como os Evangelhos este livro contém a Boa Nova da libertação. A experiência fundamental do povo de Israel é a experiência do Deus Libertador. Por isso, as narrações do Êxodo tornaram-se o protótipo de todas as outras libertações. Ainda hoje, estas narrações exercem grande influência. O faraó tornou-se o símbolo de todas as opressões e alienações actuais; Israel representa os oprimidos e marginalizados. O próprio Novo Testamento serve-se muitas vezes da temática do Êxodo. O Concilio Vaticano II definiu a Igreja como "povo peregrino" em busca da Pátria Celeste.

O livro de Levítico
Esse título faz referência ao conteúdo do livro, que é um grande código de leis, na sua maioria referentes ao culto e ao sacerdócio. Todos os sacerdotes judeus eram da tribo de Levi. Daí o nome do livro: levítico, isto é, da tribo de Levi, ou seja os sacerdotes e levitas. Podemos dizer que o livro é um grande ritual, em que se descrevem os sacrifícios, as festas, as ofertas, a consagração dos sacerdotes, o comportamento de todo o povo diante do seu Deus.
O livro está situado no coração do Pentateuco como se fosse o coração da Lei. Todas as leis nele recolhidas são consideradas como dadas por Deus no monte Sinai durante a celebração da Aliança. Mas uma análise mais profunda mostra que o livro contém leis muito posteriores, que foram reunidas e colocadas no contexto da aliança do Sinai.
O livro pode ser dividido em duas grandes partes:
- Parte cultual, com leis referentes ao culto (Levítico 1-16);
- Parte legal, ao conter leis que abrangem toda a vida do povo (Levítico 17-26).
A primeira parte pode ser assim subdividida:
- Levítico 1-7 - Leis sobre os sacrifícios: o holocausto, oblações, sacrifícios de comunhão, expiação e reparação.
- Levítico 8-10 - Leis sobre os sacerdotes.
- Levítico 11-16 - Leis sobre a pureza e impureza.
A segunda parte pode ser chamada de Código de Santidade. A santidade deve abranger todos os níveis da vida do povo: social, cultual e temporal. O capítulo 27 é um apêndice com normas sobre votos e tarifas.
Este livro é importante para uma compreensão do Antigo Testamento e do Novo Testamento. Não podemos esquecer que Jesus, os Apóstolos e a igreja Primitiva seguiram muitas das prescrições aí descritas. Podemos também entender a atitude de Jesus contra os fariseus que insistiam, sobretudo nas questões de impureza e pureza. Dentre muitos aspectos doutrinais, enumeramos estes:
- O culto: é a concretização essencial do sacrifício. Oferecer sacrifícios é uma prática cultual muito antiga, comum a muitos povos. São um meio essencial de aproximar o homem de Deus.
- A importância da santidade: o conceito de santidade é, ainda, muito imperfeito; atém-se ao exterior das pessoas, contactos, alimentos, comportamentos. Mas essa santidade exterior deve ser reflexo da santidade interior. Não se trata de uma santidade religiosa, mas abrange toda a vida das pessoas.
- O pecado: é visto como uma transgressão da Lei. Desobedecê-la é afastar-se de Deus. Por isso, o livro insiste tanto na necessidade de expiação, purificação para restabelecer a comunhão com Deus. Muitas destas Leis preservavam a saúde e o bem-estar do povo. Tinham o objectivo de eliminar muitas doenças, não por ritos mágicos, mas por meios naturais. Por mais estranho que pareça, o Levítico é um livro importante na história da salvação. Não se explica por si mesmo, mas deve ser entendido no contexto global do Antigo Testamento.

O livro de Números.
Na Tradição hebraica, esse livro é denominado Deserto, justamente porque narra a travessia do deserto pelos israelitas. Porém na tradução grega, recebeu o nome de Números por causa dos recenseamentos apresentados, sobretudo nos capítulos 1-4 e 26.
O livro está intimamente unido aos livros do Êxodo e do Deuteronómio, a unidade do livro deve-se ao quadro geográfico, isto é, o deserto entre o monte Sinai e as campinas da região de Moab, começa com uma indicação cronológica. Descreve os últimos vinte dias passados no monte Sinai, os trinta e oito anos no deserto perto de Cades Barnéa e os seis meses na região de Moab.
Os últimos acontecimentos no monte Sinai antes da partida são o recenseamento dos homens aptos para a guerra; a disposição das várias tribos no acampamento; uma série de prescrições sobre os levitas e outras leis; a celebração da Páscoa; a apresentação da nuvem que cobre o tabernáculo. Logo depois, começa a marcha pelo deserto sob a direcção do sogro de Moisés, que conhecia bem a região, pois era morador do Sinai.
A seguir, o livro apresenta as murmurações e lamentações do povo pelas dificuldades da viagem. Depois apresenta uma série de prescrições sobre as ofertas de alimento em alguns sacrifícios e sobre a violação do Sábado.
Em seguida narra a história do adivinho Balaão que ao invés de amaldiçoar, bendiz o povo de Israel; depois a idolatria dos israelitas provocada pelas mulheres de Moab e Madian, o castigo divino e o zelo de Finéias, neto de Aarão. É feito um novo recenseamento para dividir a terra prometida. Depois narra a história de Josué, a vitória sobre os madianitas, a divisão da Transjordânia, a retrospectiva das etapas do caminho pelo deserto, divisão de Canaã, termina ao dar disposições sobre as cidades refúgios para os homicidas e sobre a herança das mulheres casadas.
O livro pode ser dividido em três partes, ao ter como base os três principais lugares onde os israelitas acamparam: o monte Sinai (aproximadamente 20 dias), Cades Barnéa (38 anos) e as planícies de Moab (mais ou menos 6 meses):
Números 1-10, 10 - no monte Sinai.
Números 10, 11-21 - no deserto entre o monte Sinai e a região de Moab.
Números 22-36 - nas planícies de Moab.
O livro apresenta o Israel do deserto como Israel ideal. Mas nem por isso deixa de narrar as revoltas sob as mais variadas formas: murmurações, desânimo, rejeição da mediação de Moisés, descrença, etc. Na teologia do autor, o deserto é o lugar em que Deus habita e caminha com o seu povo, mas é também o lugar do pecado, da ingratidão, da revolta contra Deus.

O livro do Deuteronómio
O último livro do Pentateuco recebeu este nome que significa exactamente segunda (deuteros) lei (nomos). Na realidade, não se trata de uma segunda Lei, mas de uma segunda cópia da Lei. A maior parte do livro é formada por leis que repetem muitas vezes as apresentadas em Êxodo e Levítico. Na Bíblia Hebraica, esse livro é denominado Palavras, com referência aos discursos de Moisés nele contidos. A sua colocação no final do Pentateuco deve-se à sua geografia e cronologia. É situado na região de Moab, no último ano da peregrinação pelo deserto, pouco antes da entrada na terra prometida.
O livro é formado por três discursos de Moisés, pronunciados em Moab pouco antes da sua morte. O objectivo dos discursos é confirmar a aliança do Sinai:
- o primeiro discurso de Moisés - Deuteronómio 1-4
- o segundo discurso de Moisés (primeira parte) - Deuteronómio 5-11
- o segundo discurso de Moisés (segunda parte) - Deuteronómio 12-26
- o terceiro discurso de Moisés - Deuteronómio 27-30
- o apêndice histórico - Deuteronómio 31-34
Embora os discursos do Deuteronómio sejam atribuídos a Moisés, os seus verdadeiros autores e destinatários não viveram no século XIII a.C., mas provavelmente no século VIII. O livro foi formado gradativamente entre 750 e 400 a.C. Provavelmente o núcleo central do livro (Deuteronómio 4:1-28; 5: 1-9; 12:1-28,46; 30:11-20; 31:9-13) foi redigido por um levita no reino de Israel nos meados do século VIII a.C. Ele parece reunido a pregação de levitas itinerantes que percorriam o País, a ensinar a Lei e a relembrar a aliança do Sinai. Por ocasião da destruição do reino de Israel, em 722 a.C., o texto original do Deuteronómio foi trazido para o reino de Judá, talvez junto com o documento eloísta. Provavelmente o rei Ezequias (715-687 a.C.) serviu-se deste documento na sua reforma religiosa. O livro teria então recebido alguns acréscimos. Mas na reforma religiosa de Josias (640-609 a.C.), quando por ocasião da restauração do Templo (622 a.C.), se encontrou o Livro da Lei. Os biblistas concordam em afirmar que este livro é o Deuteronómio.
Os dois grandes protagonistas do Livro são Deus e Israel. O Deus de Abraão, Isaque e Jacó que se revelou a Moisés no Monte Sinai, ao escolher para si um povo dentre todos os povos da terra. Esta escolha amorosa exige de Israel uma resposta amorosa.
Os homens unem-se por meio de pactos e alianças. Deus aceitou este modo dos homens se relacionarem e uniu-se a eles através da aliança. Este importante tema percorre todo o Pentateuco. Os escribas que fizeram a última redacção dos cinco livros estruturaram todo o texto com base na teologia da aliança divididos em quatro períodos:
- A criação até Noé;
- De Noé a Abraão;
- De Abraão a Moisés;
- De Moisés a Josué.
A primeira é descrita em Génesis 9:1-17, o arco-íris no céu é o seu sinal. A aliança com Abraão foi depois renovada com Isaque e Jacó. A aliança do Sinai é a mais importante de todas. Ela determina o nascimento do Povo de Deus.
Enquanto as alianças com Noé e Abraão eram muito mais uma promessa gratuita de Deus, a do Sinai requer maior participação humana. A aliança de Siquém marca o quarto período. Josué propõe ao povo servir a Javé ou a outros deuses, o povo compromete-se a servir exclusivamente a Javé.